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Crítica: Torquato Neto – Todas As Horas do Fim redescobre o poeta

Documentário joga luz sobre um dos nomes fundamentais do movimento tropicalista

atualizado

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Torquato 2 (1)
1 de 1 Torquato 2 (1) - Foto: Reprodução

Há uma beleza agônica que perpassa de cabo a rabo o documentário Torquato Neto – Todas As Horas do Fim, em cartaz na cidade. É uma beleza melancólica, com gosto e cheiro de saudade de um artista genial, morto cedo demais e responsável por uma obra profunda, original e marcante na cultura brasileira dos 1960 e 1970.

Morto aos 28 anos, em 1972, após cometer suicídio, o poeta piauiense era figura extraordinária e estava no olho do furacão quando a Tropicália eclodiu no horizonte cinza da ditadura militar, em 1967. “O tropicalismo está morto. Viva a Tropicália!”, clamava em um de seus escritos.

É dele, por exemplo, as letras de algumas das canções mais emblemáticas da turma encabeçada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, como Geléia Geral, Marginália II e Mamãe Coragem. Aliás, impossível não se comover com o registro passional feito por Gal Costa do poema Três da Madrugada.

 

Escassez de registros
Todas essas informações e o pouco que se conhece de Torquato Neto, pelo menos por parte do grande público, está nesse belíssimo filme dirigido por Eduardo Ades e Marcus Fernando. O poeta e compositor não foi esquecido ao longo dos anos, mas o documentário tem o mérito de trazer à luz sua “sina” com ares de redescoberta.

Uma redescoberta tarde, diga-se. Como foi difícil para os diretores e produtores do projeto ter que lidar com a escassez de registros sobre o artista. Um dos raros momentos do filme, por exemplo, é o áudio de uma entrevista feita com Torquato Neto em 1968. Ali, ele conta um pouco de sua infância, a relação com a família, o envolvimento com a “turma da Bahia”, o surgimento da Tropicália e seus embates.

Cenas de filmes em que o poeta atuou como Nosferatu do Brasil (1971), de Ivan Cardoso, e dezenas de fotos desde os tempos de guri, em Teresina (PI), passando pelos dias de efervescência cultural e criativa no Rio de Janeiro, com o pessoal da Tropicália, ajudam a contar essa história. Grandes nomes do movimento, como Caetano, Gil e Tom Zé, lembram com afeto dessa figura doce, mas ao mesmo tempo anárquica e de uma tristeza lírica.

A parte mais tocante de Torquato Neto – Todas As Horas do Fim está na maneira criativa e sensível em que os diretores driblaram a falta de depoimentos em vídeo do próprio poeta. Numa delas, reúnem num diálogo visceral com a poética do artista e os acontecimentos políticos do país da época, cenas de filmes marcantes do Cinema Novo.

A amizade com o artista plástico Hélio Oiticica, os tempos de dureza em Londres, o filho Thiago Nunes, o sucesso da coluna Geléia Geral no Última Hora, a jornada sombria dos manicômios. Enfim, intérprete plural de atuações diversas, Torquato externou a complexidade de seus sentimentos e angústias numa obra que parece não dar conta de justificar seu triste e fugaz desaparecimento.

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