Crítica: “Thor: Ragnarok” dá senso de humor ao deus, mas ritmo vacila
Com direção de Taika Waititi, terceiro filme do Deus do Trovão segue personagem em batalha mitológica contra Hela, sua irmã mais velha
atualizado
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“Thor: Ragnarok”, novo episódio da bilionária série de televisão no cinema chamada Universo Cinematográfico Marvel (MCU), pode ser visto claramente como um ajuste de percurso. O Deus do Trovão é o herói que mais gera desafios e dificuldades para a Disney. O elo fraco (estético e criativo, não financeiro) da franquia que transformou Hollywood em uma fábrica de… franquias.
Como achar o tom apropriado para um personagem que não tem o carisma do Homem de Ferro, o espírito abnegado do Capitão América ou a melancolia destrutiva do Hulk? “Ragnarok” parece ter encontrado uma solução simples: renegar o que veio antes.
“Thor” (2011) usou a direção de Kenneth Branagh para dar um fundo shakespeariano ao príncipe de Asgard. A sequência, “O Mundo Sombrio” (2013), tentou evocar algo mais rústico, mas soou genérica de tudo.
O Thor de “Ragnarok” é engraçado da primeira à última cena, provando que o humor preciso de Chris Hemsworth visto em “Caça-Fantasmas” (2016) merece repeteco. A mudança na direção também indica uma modulação visual importante.
Vibe divertida, mas trama preguiçosa
Taika Watiti, neozelandês que fez fama indie com “A Incrível Aventura de Rick Baker” (2016) e “O que Fazemos nas Sombras” (2014), colore sem parcimônia viagens espaciais, figurinos de criaturas e heróis, exteriores e interiores. Impossível não lembrar dos dois “Guardiões da Galáxia”. Ele também leva para a saga Marvel seu humor físico característico, não sem toda uma já esperada carga de cultura pop.
“Ragnarok” é o tipo de filme que parece realmente bom quando descrito nesses detalhes. Basta entrar na trama para encontrar os problemas de sempre do MCU. A vilã da vez, Hela (Cate Blanchett), instala um reino de terror de Asgard. É a irmã mais velha de Thor e Loki (Tom Hiddleston), agora comportado. Grande atriz à vontade num papel subaproveitado.
Enquanto Asgard rui, os exilados Thor e Loki tentam sobreviver em Sakaar, planeta cuja lei única é satisfazer o vaidoso Grão-Mestre (Jeff Goldblum com ótimo timing cômico). Mera desculpa, bem justificado, claro, para que vejamos o Deus do Trovão enfrentando Hulk (Mark Ruffalo) numa arena de gladiadores.
Aliás, “Ragnarok” melhora bastante sempre que o caos verde em forma de herói anabolizado digitalmente entra em cena. Um bebezão com força de milhões de homens que ajuda a desestabilizar a pose divina do colega da firma.
O filme de repente vira uma comédia de brodagem enquanto a trama preguiçosa cria um minifilme dos Vingadores, tal qual fez “Capitão América: Guerra Civil” (2016), para conter a indestrutível Hela, Deusa da Morte. Junta-se à dupla a guerreira Valquíria, beberrona mui bem interpretada por Tessa Thompson.
“Ragnarok” consegue finalmente achar uma vibe para o personagem – e talvez até a música-tema cool para acompanhar esse espírito, a clássica “The Immigrant Song” (Led Zeppelin). Falta, agora, um filme sem tantos problemas de ritmo e uma história tão derivativa.
Avaliação: Regular