Crítica: Simonal explora ascensão e derrocada do Rei da Pilantragem
Cinebiografia conta com Fabrício Boliveira e Isis Valverde no elenco e estreia nesta quinta-feira (08/08/2019) nos cinemas de todo o país
atualizado
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Depois de longa espera, o filme Simonal finalmente chega ao circuito comercial de todo o Brasil nesta quinta-feira (08/08/2019). A produção da Downtown filmes narra a trajetória — desde a ascensão até a queda — do popstar brasileiro acusado de trair a classe artística passando informações para os censores durante a ditadura e encerrando a carreira com a fama de “dedo-duro” do regime militar.
De tão impressionante, a história de Wilson Simonal (Fabrício Boliveira) intriga a população mesmo quase 50 anos depois. Ninguém sabe dizer exatamente como um dos maiores astros da música popular brasileira na década de 1960 e início dos anos 1970 saiu do topo das paradas musicais para o ostracismo, exclusão social e esquecimento. Contada de geração em geração, a derrocada do Rei da Pilantragem ganhou status folclórico.
Seria o cantor um espião em conluio com órgãos repressores da ditadura militar ou um talento injustiçado, vítima, principalmente, do racismo velado que perdura no país até os dias de hoje? Essa é a questão que o diretor Leonardo Domingues busca responder com o longa-metragem – claro, sob a ótica do homenageado. Uma maneira de dar voz e um direito de defesa que foi negado a Simonal até a sua morte, em 2000.
Intimidade
Na cinebiografia, o roteiro assinado por Victor Atherino e Domingues tenta enveredar pela intimidade do artista, mas falta profundidade. Não há nada na obra sobre a infância, as influências ou como se formou o talento de Simonal, por exemplo.
A trama vai intercalando fatos da vida pessoal, focada na relação amorosa com Tereza (Isis Valverde), com o caminho profissional do artista. Desde a fase pré-carreira solo de Simonal, pouco antes de ele ser descoberto por Carlos Imperial, passando pelo icônico show no Maracanãzinho, em 1969, até o envolvimento dele com agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Tudo conduzido pela atuação sensível e impecável de Fabrício Boliveira, que mesmo sem cantar — o ator apenas dubla as canções — conseguiu se aproximar o máximo possível das expressões e trejeitos do Rei da Pilantragem.
No set, a dupla protagonista repete a boa química de Faroeste Caboclo (2013), quando deram vida ao João de Santo Cristo e à Maria Lúcia dos versos de Renato Russo. No decorrer do filme, Isis cresce ao incorporar uma mulher depressiva, enfraquecida e desgostosa com a ausência do marido. Convence. O elenco é formado ainda por nomes relevantes como Leandro Hassum, Mariana Lima, Silvio Guindane, Caco Ciocler e Bruce Gomlevsky.
O ponto forte do roteiro é a elucidação do mistério em torno da vida de Simonal. A história do artista passa pelo momento político mais sombrio do Brasil, e deve ser conhecida por todos. Durante o filme, o personagem principal vai abrindo debates sobre o racismo e o preconceito que imperavam na época, e ainda refletem na mentalidade de muitos. Sem esquecer a discussão sobre o mercado fonográfico e as maneiras que alguns artistas encontram para se livrar das amarras das grandes gravadoras.
Avaliação: Bom