Crítica: Severina é bela homenagem à literatura e às musas
Escrito e dirigido por Felipe Hirsch, o longa uruguaio presta tributo a escritores de toda história mundial
atualizado
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O segundo longa-metragem do brasileiro Felipe Hirsch, Severina, é um mergulho no universo dos escritores latino-americanos. Girado no Uruguai, o filme acompanha a vida de um livreiro melancólico e entediado (Javier Drolas), que sonha em escrever um romance. Arrebatado pela chegada de uma jovem ladra de livros, Ana (Carla Quevedo), ele se torna cada dia mais obcecado por ela – e menos conectado à própria vida.
Ana é uma força da natureza. Rouba apenas livros e seduz os livreiros que fazem vista grossa para seus furtos. Roda o mundo ao lado de um homem misterioso (Alfredo Castro) – personagem quase nada explicado no roteiro, também assinado por Hirsch.A ladra aparece e some, nunca habita verdadeiramente a vida dos homens que a cercam, embora todos eles caiam a seus pés. Como uma presença etérea, Ana parece ser uma versão moderna da musa clássica – não aparece quando o artista precisa de inspiração, mas no momento que bem entende.
Em uma cena, a moça lê para o livreiro uma anotação que encontra: “A melhor musa é a de carne e osso”. A graça da história reside na constante dúvida sobre a existência de Ana. O desenrolar dos fatos pode muito bem ser resultado da imaginação do escritor.
Ao lado de Ana, o livreiro se distancia da própria vida e da realidade, fazendo todo tipo de sacrifício pessoal por ela. A ladra aparenta ser a única parte importante da existência do homem. Nos momentos em que a jovem desaparece, ele mesmo se pega perguntado: seria ela real?
O filme nos deixa com um belíssimo monólogo sobre o fim e a superação do primeiro amor, e se encerra com o mistério no ar: Ana, ou Severina, de fato existiu? Sabemos apenas que o final de um relacionamento pode ser maravilhoso pelo amadurecimento advindo da experiência e pelas possibilidades de vida nova abertas a quem deseja enxergá-las.
Avaliação: Bom