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Crítica: sessão de empatia em “Por Trás da Linha de Escudos”

Longa de Marcelo Pedroso mostrou encontros do diretor com o Batalhão de Choque da PM de Pernambuco, especializada em reprimir protestos

atualizado

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Luís Henrique Leal/divulgação
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1 de 1 por-trás-da-linha-de-escudos_marcelo-pedroso_cred-luis-henrique-leal-e-símio-filmes-21 - Foto: Luís Henrique Leal/divulgação

Parecia que a sétima noite da competitiva do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro não empolgaria. A desanimação só foi interrompida pela aparição de um grupo de participantes do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). Integrantes do curta-metragem “Baunilha”, de Leo Tabosa, subiram ao palco do Cine Brasília para apresentar o filme e atraíram os olhares curiosos do público.

A seleção de filmes da mostra competitiva de ontem (21/9) serviu como um convite para abaixar os escudos e ouvir as razões do “outro”. Esta compreensão serve para os dois curtas-metragens e o longa exibidos em competição.

A aproximação com o diferente é a tônica do longa-metragem pernambucano, dirigido por Marcelo Pedroso (“Brasil S/A” e “Pacific”), “Por Trás das Linhas de Escudos”, que se propõe a acompanhar o cotidiano dos soldados de um batalhão do Bope da Polícia Militar de Pernambuco.

“Por Trás das Linhas de Escudos”

O exercício de empatia proposto por Marcelo Pedroso em “Por Trás das Linhas de Escudos” é inquietante de muitas maneiras. A premissa do filme é colocar diretor (como personagem), equipe e equipamentos cinematográficos dividindo espaço e o cotidiano dos integrantes do batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco.

Os primeiros contatos do cineasta com os membros da PM acontecem em entrevistas quase burocráticas até a equipe ser reconhecida por um dos policiais como participantes de um dos muitos movimentos sociais do Recife. A partir daí a película se constrói pela relação com o “outro lado” e a diminuição da distância entre dois polos opostos.

O foco do confronto entre manifestantes e policiais do BOPE, dentro e fora do filme, centra-se no disparo de um spray de pimenta desferido pelos combatentes contra um manifestante pacífico durante operação feita para sufocar o movimento Ocupe Estelita na região portuária do Recife, em 2014.

E, segue, até alcançar um momento de documentário ultra performático quando os membros da equipe do filme e agentes em treinamento passam pelo torturante experimento de terem a visão e respiração afetados pelo contato com a substância química liberada pelo gás lacrimogêneo.

8 imagens
Baunilha, de Leo Tabosa
Por trás da linha de escudos, de Marcelo Pedroso
Por Trás da Linha de Escudos, de Marcelo Pedroso
Por Trás das Linhas de Escudo, de Marcelo Pedroso
Torre, de Laís Mangolini
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Baunilha, de Leo Tabosa

Paulo Maia
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Baunilha, de Leo Tabosa

Paulo Maia/divulgação
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Por trás da linha de escudos, de Marcelo Pedroso

Luis Henrique Leal/divulgação
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Por Trás da Linha de Escudos, de Marcelo Pedroso

Luis Henrique Leal/divulgação
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Por Trás das Linhas de Escudo, de Marcelo Pedroso

Luis Henrique Leal/divulgação
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Torre, de Laís Mangolini

Estudio Teremim/divulgação
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Estúdio Teremim/Divulgação
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Estúdio Teremim/Divulgação

 

Dentre os temas tratados neste longa-metragem está o próprio militarismo e seus símbolos positivistas colocados em relação simbólica em sequências de encenação.

O final da sessão de “Por trás das linhas de escudos” registrou um protesto tímido sobre a desmilitarização da polícia militar. Isto porque o documentário apesar de eficaz em sua proposta não aborda táticas mais agressivas utilizadas pela polícia quanto a repressão de manifestações como o uso de balas de borracha ou disparos de armas de fogo que (de fato chegaram a acontecer em ocasiões recentes no país).

E, mais importante, se esquiva de levantar uma discussão mais ampla sobre o papel da polícia como braço de um Estado e de governos dispostos a encarar questões de interesses sociais como um mero atrapalho para as estratégias do mercado financeiro, como é o caso da disputa de uso do espaço urbano no cais José Estelita, em Recife.

Avaliação: Regular

“Baunilha”
O curta-metragista pernambucano Leo Tabosa está formando uma trilogia sobre afetividade e erotismo homossexual. Em “Tubarão”, lançado em 2014, o diretor apresentava a solidão de um homem após a morte prematura do seu companheiro. “Baunilha”, apresentado ontem na competitiva, também é filme de perfil onde o personagem se apresenta de máscara na intenção de desmistificar preconceitos.

O protagonista é um mestre em BDSM e advogado cuja identidade foi mantida em anonimato por elementos típicos dos figurinos dos praticantes da modalidade sexual formada pelo conceito de bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo (os nomes que formam a sigla BDSM).

O melhor do cinema de Tabosa está na representação participativa de seus personagens. O realizador parece deixá-los suficientemente confortáveis para conversar francamente sobre práticas sexuais socialmente condenadas.

Avaliação: Bom

 

“Torre”
É um erro comum vincular o cinema de animação unicamente ao cinema infantil. A técnica cinematográfica, utilizado em “Torre”, de Nádia Mangolini, protege a identidade dos filhos do primeiro morto político da ditadura militar dos anos 1960, o militante Virgílio Gomes da Silva.

Com sensibilidade, essa animação documental desenhada em tons pastéis pela equipe dirigida por Mangolini serve para aproximar o público dos sentimentos, emoções e as subjetividades de quatro irmãos que tiveram os pais aprisionados pela ditadura e tiveram de deixar o país para viver no exílio em Cuba.

Avaliação: Bom

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