Crítica: Saltburn mistura sexo, aristocracia e debate social
Saltburn, novo filme da ganhadora do Oscar Emerald Fennel, volta atenção ao universo dos superricos. Longa estreia no Prime Video
atualizado
Compartilhar notícia
Saltburn, novo filme de Emerald Fennel (Bela Vingança), quer ser ousado, inteligente e mordaz. Mas, ao fim das quase duas horas de longa, a sensação é uma vibe “ai, ela é tão louquinha”. Não que a produção seja ruim, ela tem bons momentos, porém, no todo, parece que é uma história com muita vontade de surpreender e com pouca mensagem para passar.
O filme, que estreia no Prime Video, nesta sexta-feira (22/12), se insere no recente onda de produções que olham a vida dos superricos com ironia, despertando a inevitável sensação de conflito de classes. E não é um problema em si mergulhar nesse universo que funcionou bem em Succession, Parasita e White Lotus.
O ponto central é que Saltburn parece entender esse universo apenas como uma estética, incapaz de aprofundar a discussão social que está por trás desse olhar (às vezes admirado, às vezes indignado). Fennel, então, aposta no sexo e na obssessão para pavimentar a estrada da trama principal, tocando na superfície o seu tema central, numa corrida oara chegar ao inevitável ponto da grande reviravolta.
O filme mostra como Oliver Quick (Barry Keoghan) um tímido bolsista de Oxford cai nas graças de Félix (Jacob Elordi), o popular aristocrata da universidade. Compadecido com a tragédia familiar do amigo pobre, o rico o convida para passar o verão em Saltburn, na sua residência de verão.
É na ambientação desse universo que Saltburn ganha muito, afinal, a casa e a família aristocratas são colocadas em um poço de modernidade do começo dos anos 2000. Ao invés de ouvir Mozart e discutir Shakespeare, os personagens assistem (dentro de um castelo) a O Chamado e Superbad ou debatem se os protagonistas de Harry Potter fizeram uma suruba. Tudo isso em um cenário que remete às principais produções de época.
Aqui, aliás, é de onde vem os melhores comentários sociais de Fernnel. Até mesmo os superricos, no século 21, se misturam aos “mortais” em meio ao consumismo de massa. O problema é o depois, quando se chega à parte em que Saltburn deixa de ser sátira e vira thriller, quando, infelizmente, o filme perde força.
Toda a discussão da atração sexual entre Oliver e Félix, do corpo como objeto de desejo, do estranhamento, dos papéis sociais, e do conflito entre ricos e pobres cai em um mistério vazio de significados – o que é compensado por uma trilha sonora excelente e uma estética provocativa (em uma das cenas marcantes desse momento, Fennel é capaz de mostrar a obssessão de Oliver por Félix filmando o jovem espiando pela fresta da porta).
A Fernnel diretora consegue colocar o ritmo na cenas e produzir quadros bonitos e muito fortes no filme. Já a versão roteirista falha quando precisa desenhar a trama e apresentar as motivações para a sequência de tragédias que surgem na tela. Após a revirravolta, o longa se apoia em uma sequência de flashbacks, solução bem pouco inventiva.
Nem mesmo as excelentes atuações de Rosamund Pike e de Barry Keoghan tiram essa sensação de que o filme poderia ser muito mais do que é.
Avaliação: Regular