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Crítica: Roma, da Netflix, ambiciona ser um épico da vida comum

Cotado ao Oscar 2019, novo filme de Alfonso Cuarón acompanha trajetória de babá mexicana no início da década de 1970

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Carlos Somonte/Netflix/Divulgação
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1 de 1 carlos-somonte-netflix-roma-21 - Foto: Carlos Somonte/Netflix/Divulgação

Roma, filme da Netflix dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, pode marcar uma nova era na relação da plataforma de streaming com suas produções de cinema. Deve terminar 2018 como um dos longas mais elogiados do ano. Vários críticos e espectadores não hesitam em chamá-lo de obra-prima. Mas será isso tudo mesmo?

Além de carregar carimbos artísticos que vendem respeito – venceu o Festival de Veneza, o mais antigo do mundo, e tem boas chances no Oscar 2019 –, a produtora aposta no olhar clínico e austero de um cineasta respeitado internacionalmente (dois Oscars por Gravidade) disposto a contar uma história de vulto pessoal e memorial.

Carlos Somonte/Netflix/Divulgação
Alfonso Cuarón, o diretor, e Yalitza Aparicio, atriz que interpreta Cleo: filme baseado nas memórias do cineasta

 

Acompanhamos a babá Cleo (Yalitza Aparicio), empregada de uma família de classe média na Cidade do México, durante um ano, entre 1970 e 1971. Ela é uma versão romanceada e ficcional de Libo, mulher que trabalhou na casa de Cuarón durante a infância do realizador e a quem o filme é dedicado nos créditos finais.

Dos Three Amigos, como é apelidado o grupo de mexicanos oscarizados composto por Cuarón, Alejandro González Iñárritu (Birdman), Guillermo del Toro (A Forma da Água), o autor de Roma talvez seja o mais rigidamente formalista.

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Família vive turbulências domésticas com a ausência do pai e marido, Antonio
A babá Cleo: os sofrimentos de uma jovem periférica
Cleo em trabalho de parto: um dos momentos mais emocionantes do filme
Pôster de Roma, filme da Netflix
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Cleo, a patroa e as crianças

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Família vive turbulências domésticas com a ausência do pai e marido, Antonio

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A babá Cleo: os sofrimentos de uma jovem periférica

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Cleo em trabalho de parto: um dos momentos mais emocionantes do filme

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Pôster de Roma, filme da Netflix

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Rodado em preto e branco, o longa exala um virtuosismo técnico quase que a todo instante. A beleza de imediata identificação popular – torna-se fácil compará-la às fotos de Sebastião Salgado, por exemplo – é digna de questionamentos para além das molduras milimetricamente dispostas, bem como os ensaios do artista brasileiro.

Seria um gesto cinematográfico para eternizar memórias? Ou um embelezamento da pobreza como forma de exorcizar o sentimento de culpa burguês diante dos abismos sociais? Há risco desse apuro visual ser visto como mero exibicionismo?

Movimentos panorâmicos de câmera guiam o olhar do espectador pela casa de Sofia (Marina de Tavira), professora de química que divide o lar com o marido ausente, o médico Antonio (Fernando Grediaga), sua mãe, Teresa (Verónica García), e quatro filhos, Pepe (Marco Graf), Sofi (Daniela Demesa), Toño (Diego Cortina Autrey) e Paco (Carlos Peralta).

Em um quartinho nos fundos da casa, vivem Cleo e Adela (Nancy García), duas das empregadas. A protagonista é a queridinha das crianças. E vê de perto o desmantelamento de uma família – Antonio tem uma amante e, aos poucos, simplesmente desaparece, deixando dívidas e provocando crises.

Cuarón, também fotógrafo e montador, aproveita o contexto para diretas referências aos turbulentos anos 1970 na capital mexicana: em especial, a precariedade das periferias e o massacre de Corpus Christi, quando o grupo paramilitar Los Halcones assassinou mais de 100 pessoas durante uma manifestação estudantil.

Mas o que interessa mesmo é o olhar de Cleo. O uso de planos longos de Cuarón, consagrado no sci-fi Filhos da Esperança (2006) e uma das principais assinaturas do diretor, retorna para fins distintos. Quando Cleo, numa sala de cinema, decide contar ao seu namorado, Fermín (Jorge Antonio Guerrero), que espera um filho dele, o efeito é devastador.

Já no clímax, numa extenuante sequência de parto, a duração do sofrimento parece cena de tortura – uma maneira enervante de manipular as emoções do público. As últimas imagens promovem uma forçada catarse familiar na praia, para depois devolver a doméstica ao lugar de sempre.

Roma posa de grande obra – “um épico da vida comum”, grita cada momento rodado com capricho  –, mas, no fim das contas, merece ser tratado apenas como um bom filme. Com todas as problemáticas possíveis que envolvem as ambições de comportar, a um só tempo, drama social, veia biográfica e ostentação estética.

Avaliação: Bom

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