Crítica: Rocketman retrata com vigor crises e sucessos de Elton John
Longa traz Taron Egerton no papel do britânico, narrando infância e os primeiros anos de estrelato do cantor e pianista
atualizado
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Rocketman, filme sobre Elton John, prova que cinebiografias, mesmo aquelas oficiais – ou seja, a maioria delas –, podem funcionar. Taron Egerton, astro da franquia de herói Kingsman, interpreta o cantor, compositor e pianista sem necessariamente imitar seus trejeitos.
Mas a alma do astro pop está por toda a parte, em todo o seu vasto catálogo de extravagâncias, hits atemporais criados ao lado do compositor Bernie Taupin (Jamie Bell) e tribulações familiares. A história, que cobre da infância tímida ao coloridíssimo estrelato, ainda arranja tempo para mostrar o abuso de álcool e drogas, a explosão como ícone gay universal e a árdua conquista da sobriedade.
Na seara das biografias artísticas, o longa rende comparação com o recente blockbuster Bohemian Rhapsody, vencedor de quatro estatuetas no Oscar e sexta maior bilheteria de 2018, com US$ 903 milhões. Por motivos variados, Rocketman é muito mais filme.
A começar pela própria narrativa. Ágil na direção, Dexter Fletcher encontra em fartos números musicais uma maneira de contar a vida de John sem cair no didatismo fácil, à la Wikipédia, visto em Bohemian, por exemplo.
(Curiosamente, Fletcher concluiu as filmagens de Bohemian após a demissão do diretor Bryan Singer, cujo nome foi mantido nos créditos em obediência a normas sindicais.)
Assim, Rocketman consegue trafegar entre diferentes fases da trajetória do músico de maneira vibrante, às vezes até caótica. Não por acaso, o filme abre com o artista procurando um grupo de ajuda para viciados. Dali, a trama se abre para eventos da infância e a traumática relação do personagens com seus pais, vividos por Bryce Dallas Howard e Steven Mackintosh.
Do pai, nunca recebeu sequer um abraço e foi abandonado sem despedidas. Da mãe, quando revelou ser gay, ouviu que, por isso, jamais seria amado de verdade.
Essas dolorosas passagens encontram apoio e contraponto tanto nas recriações de espetáculos, com um John sempre exibindo figurinos carnavalescos, quanto nas cenas que mostram o lado obscuro da fama – a solidão, a carência sentimental “suprida” no relacionamento ríspido com seu agente, John Reid (Richard Madden), a busca por sentido em compras exageradas e uso incontrolável de bebidas e drogas.
Contando com David Furnish, marido de John, entre os produtores, Rocketman começa a vacilar do meio para o fim, quando a jornada autodestrutiva à guisa de saída (a morte ou o recomeço) parece repisar as mesmas notas de desespero, arrependimento e redenção.
De qualquer modo, trata-se de uma cinebio que, mesmo em suas falhas e clichês, articula tanto agressividade quanto ternura ao dramatizar a juventude febril de Elton John.
Avaliação: Bom