Crítica: reação ao Especial de Natal Porta dos Fundos é exagerada
O programa da Netflix tem sido amplamente criticado, com direito a abaixo-assinado para removê-lo da Netflix por “ofender cristãos”
atualizado
Compartilhar notícia
O Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo estreou na Netflix no dia 3 de dezembro. Desde então, causou bastante polêmica com suas piadas de cunho religioso. Tanto que foi feito um abaixo-assinado pedindo que o streaming removesse a produção da plataforma.
Ao Estadão, a produtora disse que “valoriza e aprova a liberdade criativa dos artistas com quem trabalha e reconhece também que nem todas as pessoas vão gostar desse conteúdo. Daí a liberdade de escolha oferecida pela empresa, em seu cardápio variado de opções, que inclui, por exemplo, novelas bíblicas”. Mas o que exatamente fez com que tantos líderes religiosos e políticos exigissem a retirada do especial de 45 minutos? A explicação é simples, mas contém muitos spoilers.
Jesus é gay
Logo na introdução ao personagem interpretado por Gregório Duvivier, fica claro que ele tem algum tipo de envolvimento romântico com Orlando, papel de Fábio Porchat. No especial, Jesus é surpreendido, em seu aniversário de 30 anos, pela notícia de que seu “tio” (Antonio Tabet) é na verdade Deus e seu pai. No entanto, tudo o que Jesus quer é trabalhar na arte do malabarismo. Não pretende assumir toda essa responsabilidade.
Ao longo da trama, a orientação sexual de Cristo é muito pouco relevante. Ela só serve para explicar por que Orlando viajou de volta para casa com ele e também para dar uma razão pela qual Jesus escolheu apóstolos homens. Deus até avisa ao filho que os seguidores não precisam ser todos homens…
Deus tenta seduzir Maria
Outra representação de figuras religiosas que pode ofender os devotos é a de Deus. O personagem de Tabet está perdidamente apaixonado por Maria (Evelyn Castro) e forma um triângulo amoroso com ela e José (Rafael Portugal). Ainda por cima, não é claro se os dois fizeram amor carnal para conceber Jesus no universo do Especial de Natal.
Deus é também o próprio “tio do pavê ou pacumê”.
O personagem também manipula Jesus, prometendo ao menino que, quando ele completar 33 anos, poderá decidir se seguirá na missão de “o Filho de Deus”. Em uma das piadas, o chamado de Deus é comparado por Jesus a um esquema de pirâmide: “Você fala para um, ele fala para dois, que fala para três e assim por diante”.
Blasfêmia
O Porta dos Fundos sempre fez conteúdo provocativo. No Especial de Natal de 2018 – que venceu Emmy Internacional de Melhor Comédia -, Jesus era um personagem ainda mais blasfemo do que o de Duvivier. Lá, não só ficou bêbado como pretendia transar com Maria Madalena e ainda torturou algumas pessoas. Porém, ninguém criou uma petição para removê-lo ou um boicote da Netflix.
As melhores partes do especial são aquelas focadas nos relacionamentos entre os personagens. José é o destaque do especial, protagonizando algumas das melhores cenas, porém o personagem não consegue fazer nada certo. Ele é quem inventa o arroz com passas, a maçã na maionese, e ainda é influenciado por Orlando a botar coentro em todos os salgadinhos. Não é grande surpresa que Orlando se torna Lúcifer no terceiro ato do Especial.