Crítica: Predadores Assassinos reúne pai e filha em terror de jacarés
Novo filme hollywoodiano do diretor francês Alexandre Aja mistura gêneros de cinema para narrar reencontro familiar em meio a tempestade
atualizado
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Predadores Assassinos (Crawl, em inglês) é terror em família – note, algo bem diferente de para a família. Novo filme hollywoodiano do diretor francês Alexandre Aja (Alta Tensão), o longa narra os desdobramentos de uma tempestade de categoria 5, a mais alta, na relação entre pai, Dave Keller (Barry Pepper), e filha, Haley (Kaya Scodelario) e cachorrinha Sugar. Além dos perigos óbvios provocados por um furacão – alagamentos, correntezas, ventos fortes, carros e casas destruídos –, eles ainda têm de sobreviver a jacarés famintos que invadem a cidade.
Que tal usar uma tragédia natural para reconectar pessoas que se amam, mas andam afastadas uma da outra? O conceito deveras exagerado, mas inegavelmente cinematográfico – Spielberg individualiza tragédias coletivas filme sim, filme não –, serve a um carrossel de emoções burilado a partir da fusão de gêneros de cinema e subgêneros de horror.
A própria ambientação já sugere a criação de um universo próprio, confinado tanto a Dave e Haley quanto aos interesses de Aja na condução da narrativa. Aspirante a nadadora profissional, a estudante da Universidade da Flórida recebe telefonema da irmã, Beth (Morfydd Clark), alertando sobre a tempestade.
Preocupada com o pai, estranhamente incomunicável, ela fura o bloqueio policial montado após a evacuação da cidade, mas custa a achá-lo. Só encontra Sugar. Arrisca ir à antiga casa de família que ela acreditava ter sido vendida após o divórcio. E nada ainda.
Uma ida ao apertado porão – do tipo crawl space, que só permite engatinhar no ambiente; daí vem o título original – revela Dave ferido, desacordado, cercado por jacarés e com o nível da água subindo, já que a chuva não dá trégua.
Diversão e emoção
Aja usa muito bem essa atmosfera de isolamento para desenvolver um eficiente suspense de espaços fechados, úmidos e mal iluminados. A cada oportunidade, enjaula os personagens em novas situações, uma mais ameaçadora do que a outra.
Ladrões roubam a lojinha do posto de gasolina ali perto. Será que poderão ajudar? Policiais voltam à cidade de barco para, quem sabe, encontrar sobreviventes. Conseguirão achar Dave e Kelle entrincheirados num porão alagado?
Nesse sentido, Aja articula tudo o que poderia acomodar dentro de um drama de pai e filha: terror de sobrevivência, de criaturas assassinas, filme-catástrofe ou de desastre natural, thriller de corrida contra o tempo e sequências de ação e suspense habilidosamente planejadas e filmadas. Uma das principais (trechinho clipe acima), na parte final, mostra pai e filha fugindo dos jacarés dentro de casa, entrando e saindo de cômodos e tentando usar escombros para se proteger e afugentar os predadores.
Não se deixe enganar pelo genérico título em português. Predadores Assassinos diverte à beça ao potencializar gêneros diversos de cinema e ainda consegue aplicar fundo emocional convincente à narrativa.
De quebra, significa um retorno à forma de Aja, que andou derrapando de uns tempos para cá, sobretudo em A Nona Vida de Louis Drax (2016). Crawl talvez seja o melhor filme dele desde a estreia em Hollywood, com Viagem Maldita (2006), brutal remake de Quadrilha de Sádicos (1977).
Avaliação: Ótimo