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Crítica: Praça Paris é retrato urgente do abismo social brasileiro

Filme se destacou no Festival do Rio 2017: levou os prêmios de melhor direção de ficção e de melhor atriz

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Praça Paris
1 de 1 Praça Paris - Foto: Cepa Audiovisual/Fado Filmes/Telecine/Taiga Filmes/Divulgação

A relação entre psicólogo e paciente tende a ser permeada pela empatia: para ajudar alguém, é preciso se colocar no lugar dessa pessoa. O questionamento de Praça Paris, longa de Lúcia Murat, representa o limite dessa identificação: seria possível se ver na vida de alguém que vive no outro lado do abismo socioeconômico do Brasil?

Na cadeira do paciente, a ascensorista Glória (Grace Passô): negra, pobre, solitária, moradora do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, vítima de violência policial e doméstica. A terapeuta é a imigrante portuguesa Camila (Joana de Verona), branca, mestranda, vive com o namorado em um apartamento cuidadosamente decorado com lembranças de viagens pela Europa e livros sobre cinema e filosofia. Ao procurar ajuda nas mãos da psicóloga, Glória logo vê que o diálogo será dificílimo.

“Você me enxerga como um bicho de zoológico”, critica a carioca em uma das primeiras sessões. A afirmação não é injusta. Camila decide fazer seu mestrado sobre a violência doméstica vivida pela paciente, sem nem perguntar a ela se está autorizada a fazê-lo. Além disso, a psicóloga é incapaz de enxergar a injustiça da agressão policial vivida pela ascensorista – e por outros personagens negros que cruzam seu caminho ao longo da história.

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O filme debate, entre outros temas, a solidão da mulher negra
O irmão de Grace, Jonas (Alex Brasil), é mais uma peça do cenário violento em que Glória vive
A psicóloga Camila, altamente privilegiada, acha que a própria realidade é próxima da de sua paciente
O pôster do filme
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Vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival do Rio 2017, Grace Passô está implacável como Glória

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O filme debate, entre outros temas, a solidão da mulher negra

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O irmão de Grace, Jonas (Alex Brasil), é mais uma peça do cenário violento em que Glória vive

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A psicóloga Camila, altamente privilegiada, acha que a própria realidade é próxima da de sua paciente

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O pôster do filme

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A imensa diferença entre as duas é evidenciada em um dos momentos de maior dor. Na primeira sessão depois de Glória ser torturada por policiais militares, Camila insiste tolamente que ela denuncie a violência. “Não fique triste pela sua comunidade, as coisas vão melhorar”, diz, em uma tentativa patética de consolar a paciente. A psicóloga começa e termina a história sem ver o óbvio: o Estado jamais cuidou das duas de maneira igual.

Quanto mais a paciente precisa de ajuda, a psicóloga se revela incapaz de compreender o contexto violento vivido por Glória. Em uma posição privilegiada, ao ponto de poder ser defendida pelo Estado assassino que violenta a outra personagem, a portuguesa só evidencia seu próprio preconceito e incapacidade de empatia.

Praça Paris escancara o abismo socioeconômico brasileiro com uma narrativa crua, violenta e destemida, colocando cara a cara dois extremos que convivem na capital fluminense. Em tempos de Marielle Franco assassinada por lutar pela população negra, pobre e periférica, o filme é um lembrete de debates e mudanças urgentes no país.

Avaliação: Ótimo

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