Crítica: “Planeta dos Macacos: A Guerra” é épico político e emotivo
Terceiro filme da franquia de origem mostra um pós-apocalipse em que macacos e humanos batalham pela supremacia no planeta
atualizado
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Depois de “Planeta dos Macacos: A Origem” (2011) e “O Confronto” (2014) renovarem a clássica franquia de ficção científica, “A Guerra” conclui o ciclo revolucionário de César, o símio superdesenvolvido interpretado por Andy Serkis.
Mais político do que os longas anteriores, o filme que forma uma trilogia sobre a supremacia dos macacos funciona como uma espécie de Êxodo revisitado. César, portanto, seria o Moisés de um povo sofrido, desterrado, mas destinado a reinar no planeta.
Delírio, intolerância, violência
Matt Reeves, diretor do ótimo “O Confronto” (ainda o melhor filme da trilogia) e longas como “Cloverfield – Monstro” (2008) e “Deixe-me Entrar” (2010), espertamente individualiza a luta de César e seus comandados e transforma a milícia do Coronel em um grupo paramilitar vitimizado, embrutecido pelo ódio ao outro.
Se há aqui alguma alusão à intolerância que vivemos hoje no mundo real, onde crises de refugiados e políticos caricatos fornecem um angustiante painel geopolítico, “A Guerra” parte para uma referência ainda mais cristalina quando o Coronel ergue um muro para separar os humanos “puros” de todo o resto – César, símios de seu bando ou independentes, e humanos infectados.
A chave de Reeves para ilustrar uma violência sem sentido, movida por ressentimento de um lado (humano) e vingança do outro (macaco), é filiar o filme a “Apocalypse Now” (1979), talvez a obra-modelo sobre a guerra como delírio.
Reeves consegue quase sempre tornar o material interessante pela maneira como organiza diferentes abordagens para cada personagem – um César quase profético, com redemoinhos internos e uma teimosia inescapável, um Coronel como a tradução da arrogância humana.
Um blockbuster político e emotivo
O que incomoda “A Guerra” é o quanto o filme adiciona aos já mui carregados dramas de César e Coronel e seus respectivos seguidores. O roteiro talvez proponha personagens demais – a garotinha órfã Nova (Amiah Miller), o “Macaco Mau” (Steve Zahn), tentativa de alívio cômico, e uma porção de coadjuvantes.
Com discursos demorados das duas partes – alguns inspirados, outros apenas repetitivos –, o filme tenta dinamizar a história ao distribuir as peças da batalha em nacos narrativos bem fechadinhos, da guerra miliciana à fuga de prisão, passando pelo road movie. Cada bloco tem seus trunfos e seus becos sem saída.
“A Guerra” equilibra diversão popular com uma intensidade emocional que costuma faltar à maioria dos blockbusters. Impressiona como, mesmo em atmosfera de fim de mundo, César e os seus despertam em nós um discreto, mas cativante sentimento de esperança.
Avaliação: Bom
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