Crítica: Pedro Coelho tem boas tiradas, mas se perde na modernização
Com belas imagens e animações impecáveis, o longa tem seus problemas, mas é indicado para a criançada
atualizado
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Baseado nos personagens, contos e ilustrações de Beatrix Potter, o longa Pedro Coelho estreia às vésperas da Páscoa, prometendo salvar o feriado de muitos pais por aí. Esse é o quinto filme de Will Gluck, conhecido por A Mentira (2010) e Annie (2014). Na história, o protagonista tem que lidar com a chegada de um herdeiro do senhor Severino (um irreconhecível Sam Neill), o vizinho cuja horta ele adora roubar.
Embora as imagens sejam boas homenagens aos desenhos de Potter, o filme é uma modernização nem sempre bem-sucedida dos contos publicados há um século. O roteiro se apoia excessivamente em longas sequências musicais demonstrando o desenvolvimento da história, como um assalto de Pedro Coelho e seus irmãos à horta vizinha ou a festa que a bicharada faz quando o velho Severino morre e deixa a casa vazia.
As músicas escolhidas, aliás, são um problema: canções da moda, americanas, quebram o clima campestre inglês, característico das obras originais. Há de se aplaudir, no entanto, um texto que ri de si mesmo ao final, com a narradora ironizando a última série de cenas preguiçosas, que servem para acelerar o decorrer de uma jornada de volta para casa.
O humor do filme é um grande trunfo: as piadas são excelentes e divertem adultos e crianças. Desde as participações de Chico Chato, um porco que deseja ser fino e fazer dieta, mas não consegue se controlar diante de um prato cheio de maçãs; até o galo da fazenda dos Severinos, que se prepara todas as noites para o fim do mundo e se espanta diariamente com o retorno do sol.
Animação eficiente, pero no mucho
Com bons efeitos especiais, o filme consegue, pelo humor pastelão, arrancar boas risadas de quem gosta de ver o circo pegar fogo. A animação também tem méritos: as expressões dos coelhinhos, sobretudo suas demonstrações de tristeza e de medo, fazem miséria com o clássico olhar de piedade do Gato de Botas, de Shrek.
A mistura da animação com o live action certamente funciona para a criançada, mas não cola com o público adulto. É difícil assistir atores do calibre de Rose Byrne e Domhnall Gleeson se comportando como se estivessem em um desenho animado, interagindo com coelhos digitais. Essa dificuldade se comprova no conflito final, quando mocinho e mocinha brigam porque ele acusa Pedro de usar explosivos. “Ele é um coelho!”, reclama a jovem, com absoluta razão.
O principal problema do filme é a disputa entre o protagonista e o personagem de Gleeson, Tomás, pela mocinha Bia (Byrne). Pedro se comporta como o filho abandonado que quer infernizar a vida do novo namorado da mãe, nos piores moldes de O Pestinha. Tomás, sabendo do amor da namorada pelos bichinhos, insiste em comprar dinamite para explodir a toca onde eles vivem. Diante disso tudo, a ela resta o papel da mãe redentora que perdoa todos e reconstrói o lar.
Fica a esperança de que os jovens espectadores prestem mais atenção na bela amizade entre Pedro e seu irmão adotivo, Benjamin, e na união das imbatíveis irmãs do protagonista, as trigêmeas Flux, Flocos e a selvagem Rabo de Algodão.
Avaliação: Regular