Crítica: Pássaros de Verão narra origens do tráfico na Colômbia
Filme de Ciro Guerra e Cristina Gallego usa formato episódico para contar ascensão da maconha e ônus do comércio em cultura ancestral
atualizado
Compartilhar notícia
Pássaros de Verão, novo filme do casal colombiano Ciro Guerra e Cristina Gallego, ilustra o poder destrutivo do tráfico de drogas no país através de perspectiva histórica sobre o assunto.
Voltando aos anos 1960, a dupla, conhecida anteriormente pelo indicado ao Oscar O Abraço da Serpente (2015) – dirigido por Guerra e produzido por Gallego –, repassa as origens do comércio ilegal de marijuana, na época um mero negócio familiar.
Dividida em cinco capítulos (ou cantos, na definição nomeada pelo filme), a história se concentra em uma família de origem Wayuu, tribo indígena presente na Colômbia e Venezuela. Em especial, acompanhamos a trajetória de Rapayet (José Acosta), jovem que assume papel de liderança nos negócios e testemunha ascensão e ruína de quem o rodeia – e também dele próprio.
Sem participar do roteiro, assinado por Maria Camila Arias e Jacques Toulemonde Vidal, Guerra e Gallego criam atmosfera não necessariamente típica de um filme de máfia, apesar de inegáveis momentos-chave – tiroteio pesado a uma casa, violência verbal humilhante e extrema (um capanga se vê obrigado a comer cocô de cachorro para se apossar de fortuna) e alguma dose generosa de sangue derramado e corpos estendidos na estrada.
Ainda assim, Pássaros de Guerra é mais ritualístico do que propriamente épico. Uma trama apegada visualmente a pequenos gestos, como a ordem de uma mãe a um filho e negociações entre famílias e clãs que desafiam os limites da cordialidade.
Esses acertos detalhistas sobre uma cultura ancestral – prestes a ser atropelada pela ganância e pelo dinheiro do capitalismo moderno – nem sempre encontram eco ideal na estrutura narrativa.
O gasto formato capitular, muito associado a um certo tipo de “filme de prestígio”, frequentador de festival, enclausura a trama num já manjado ciclo de perda de inocência, glória e queda. Há pouco espaço para respiro e um incômodo determinismo nos rumos do roteiro.
Por outro lado, a sóbria fotografia de David Gallego (O Abraço da Serpente, Eu Não Sou uma Bruxa), de tons tão desérticos quanto coloridos, empresta farta autenticidade local à história.
Avaliação: Regular