Crítica: Os Farofeiros é melhor que a média das comédias nacionais
Novo filme de Roberto Santucci narra as confusões de amigos de trabalho que decidem viajar para a praia com suas famílias
atualizado
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Os Farofeiros parece um filme ligeiramente mais esperto se comparado ao que vemos anualmente nas comédias brasileiras. Com uma clara alusão a longas como Férias Frustradas, a produção acompanha uma série de infortúnios que condenam uma viagem de fim de ano de quatro amigos de trabalho e suas respectivas famílias.
Autor das franquias De Pernas pro Ar e Até que a Sorte Nos Separe em parceria com o roteirista Paulo Cursino, Roberto Santucci é o diretor responsável por praticamente uma década de blockbusters humorísticos. Desta vez, ele tenta remexer um pouco a fórmula e arriscar um timing cômico mais agressivo, rasgado e anárquico – obviamente tudo dentro de um certo limite padronizado e algo televisivo ao qual já estamos acostumados.
Lima (Maurício Manfrini) e Rocha (Charles Paraventi) conseguem convencer Alexandre (Antonio Fragoso), chefe da empresa em que trabalham, a cair na estrada para o litoral e curtir uma casa de praia. O comboio sai do Rio de Janeiro e, uma vez no destino – uma casa em ruínas localizada a quilômetros da areia –, encontram Diguinho (Nilton Bicudo), outro companheiro de férias.
A virada de ano para essa turma não será nada menos que uma roubada daquelas. Santucci enxerga nesse encontro uma oportunidade de brincar com a crise econômica – Alexandre precisa demitir um dos três colegas até o Réveillon – e articular pequenos conflitos sociais entre classes distintas.
Da comédia popular à metalinguagem
Esses pontos de contato com o Brasil real nem sempre funcionam quanto deveriam, mas servem como sintoma curioso de uma sociedade contemporânea dividida por abismos financeiros e angústias distintas. É como se Santucci formasse aqui uma comédia de conciliação. O que de fato se consuma no clímax, com o quarteto e suas mulheres num raro encontro pacífico à beira-mar.
Mas há uma cena encaixada no filme que parece reforçar uma nova tendência das comédias nacionais: a metalinguagem. Dia desses falamos aqui de Fala Sério, Mãe! – por sinal, escrito por Cursino – citando um momento em que Paulo Gustavo, astro de Minha Mãe É uma Peça, aparece na trama no papel dele mesmo, uma celebridade do cinema.
Pois bem. Agora, a narrativa parece pausar para que o filho de Alexandre informe ao público de um hábito familiar nas férias: ir ao cinema ver comédias nacionais. A família vai na companhia dos colegas de firma do patriarca. Eis o filme: Minha Vó É uma Comédia.
“Ah, comédia nacional só tem putaria e palavrão”, reclama Renata durante a sessão. Na tela do filme dentro do filme, a tal vovó olha para trás, para os personagens de Os Farofeiros, e rebate o comentário da espectadora. Ato contínuo, todos olham agora para nós, o público real, com olhares de reprovação.
Um recadinho para os críticos ou uma crítica ao velho ranço que algumas plateias (seriam as elites, imagina-se) nutrem em relação a produções nacionais?
Avaliação: Regular