Crítica: “Os Cowboys” é releitura perturbadora de faroestes
O filme, falado em francês, opõe o “homem branco” ao imigrante muçulmano
atualizado
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Espera aí?! Como é que é?! Parem o filme e acendam as luzes! Cowboys falando na língua de Voltaire? Isso mesmo, você não leu errado, não surtou ou está vendo uma comédia pastelão dos irmãos Marx. Estreia na direção do roteirista Thomas Bidegain, “Les Cowboys” (no original) revisita o faroeste, um dos gêneros norte-americanos por excelência. Mas, no caso aqui, a interferência maciça da cultura islâmica na França.
O enredo é poderoso e tem como referência explícita um dos clássicos do cinema, o western “Rastros de Ódio”, filme de 1956 dirigido pelo mestre John Ford e estrelado por John Wayne.
Em “Les Cowboys”, Alain Balland (François Damiens) é pai em busca da filha “sequestrada” pelo Estado Islâmico. Quer dizer, ela abandonou a família por conta do namorado árabe, mas nas entrelinhas há um mundo de intrigas políticas-religiosas que implica de forma vicinal outras questões abordadas no filme. Desolado, claro, pai e filho saem desesperados em busca da filha, correndo toda a Europa e alguns países do Oriente Médio. Tudo em vão.
“Sua filha não é mais sua filha”, avisa um chefe muçulmano.
Releitura de clássico do cinema
Uma palavra que perpassa toda a trama de “Les Cowboys” é obsessão. A do pai de reencontrar a filha e que acaba por contagiar também o filho mais jovem, antes um adolescente inseguro, agora um adulto confuso (Finnegan Oldfield). E é essa angústia sem fim de uma busca que parece não ter solução, tal qual em “Rastros de Ódio”, que move esses dois personagens desnorteados.
Roteirista fetiche do cineasta Jacques Audiard (“Dheepan: O Refúgio”), Thomas Bidegain tem uma estreia impactante por trás das câmeras nesta releitura bem perturbadora de um dos clássicos do cinema. Na verdade, o diretor neófito traça paralelo criativo de uma experiência pessoal escrevendo uma obra pertinente. Isso porque, em tempos de terrorismo e intolerância religiosa e cultural, “Les Cowboys” é incômodo.
Daí o diálogo crucial que o filme faz com outra produção francesa em cartaz na cidade com pegada mais documental, o drama “Fatima”, que fala sobre a situação do imigrante árabe no país. Ao que tudo indica, nos dois casos, a ideia não é encontrar culpados ou julgar essa ou aquela situação. São apenas exposições, variações e reflexões dos fatos destes sinais dos tempos.
Veja os horários de exibição do filme
Avaliação: Bom