Crítica: Onde Está Você, João Gilberto? retrata ausência de um ídolo
Dirigido pelo francês George Gachot, longa adapta livro de jornalista alemão que tentou se encontrar com o pai da bossa nova
atualizado
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Onde Está Você, João Gilberto?, documentário do francês Georges Gachot, lança a pergunta que todo fã de música brasileira se faz há vários anos. À luz das mais recentes notícias envolvendo o pai da bossa nova – interdição pela família, contas bloqueadas, dívidas, despejo, processos na Justiça –, o filme tenta elaborar um mítico retrato da ausência de um ídolo.
Diretor de vários documentários sobre artistas nacionais, como O Samba (2014), Nana Caymmi em Rio Sonata (2010) e Maria Bethânia: Música é Perfume (2005), o cineasta parisiense usa sua homenagem ao autor do disco Chega de Saudade (1959) para refazer os passos de outro estrangeiro apaixonado por Gilberto: o jornalista alemão Marc Fischer.
Por isso, Onde Está Você? é mais uma adaptação de Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto, livro de Fischer sobre sua tentativa de conhecer o músico, do que um trabalho convencional sobre o legado ou o atribulado histórico recente do cantor.
O filme articula duas obsessões: a de Gachot em refazer os passos e encontros de Fischer por meio de fotos, entrevistas e conversas com personalidades que o alemão conheceu no Rio de Janeiro, e a de Fischer por Gilberto.
Fischer, que se suicidou em 2011, estruturou o livro como uma investigação misteriosa: ele era Sherlock, e Raquel Balassiano, tradutora e um dos principais contatos dele no Brasil, Watson. Gachot, obviamente, também percorre o Rio ao lado da intérprete, em busca do artista.
Certas escolhas diretoriais trazem uma inquietação febril, um fascínio um tanto inconsequente de um fã por seu ídolo. Gachot faz de tudo para pelo menos entender essa persona tão arisca e, ainda assim, hipnotizante.
Vai a Diamantina, onde o músico viveu na juventude, ouve histórias de Miúcha, ex-mulher do gênio, Marcos Valle, que só conheceu o ídolo por meio de uma conversa ao telefone, João Donato e Roberto Menescal – ambos não falam com o baiano há décadas.
Outras posições adotadas por Gachot soam apenas frívolas, como o mirabolante plano de realizar o sonho máximo de Fischer – fazer com que Gilberto toque Ho-ba-la-lá – ou as andanças meio sem rumo pelo Rio, uma maneira pretensamente poética de flagrar a invisibilidade do morador mais discreto da metrópole.
Na última cena, o diretor consegue arrumar um “encontro” (real ou encenado?) quase às escuras: ele num corredor do Copacabana Palace; o artista dentro do quarto, tocando violão após uma breve negociação com seu agente. Gachot jamais consegue transformar seu filme em algo deveras instigante sobre a vida fugidia de Gilberto. Como trunfo, pelo menos atrai imensa curiosidade do espectador.
Avaliação: Regular