Crítica: O Sequestro do Voo 375 resgata crime real com megaprodução
Com direção de Marcus Baldini e protagonizado por Jorge Paz e Danilo Grangheia, O Sequestro do Voo 375 chega nesta quinta (7/12) aos cinemas
atualizado
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O cinema brasileiro, premiado e reconhecido mundialmente, não deve nada a Hollywood. Mesmo assim, sempre que questionado, o audiovisual nacional refoça a enormidade de seu talento. O Sequestro do Voo 375, filme baseado em fatos reais (e surreais), estreia nesta quinta-feira (7/12) e leva para as telonas de todo o país uma megaprodução de tirar o fôlego, que não fica atrás de nenhum blockbuster da indústria norte-americana.
Fruto da pesquisa minunciosa do jornalista Constâncio Viana, o longa resgata uma história que tomou o noticiário do Brasil em 1988, quando Raimundo Nonato Alves da Conceição, um maranhense desempregado de 28 anos, se muniu de um revólver calibre 32 e sequestrou um Boing da Vasp com mais de 100 pessoas a bordo. O objetivo: jogar a aeronave em cima do Palácio do Planalto, em Brasília, para matar o então presidente da República, José Sarney (1985-1990). Veja o trailer!
O roteiro assinado por Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, e já premiado no Los Angeles Brazilian Film Festival, acerta ao contextualizar o período econômico do país, gatilho para a ira do sequestrador contra os políticos que pouca assistência prestavam ao povo. Humanizar esse vilão logo nos primeiros minutos da exibição é um grande acerto e tira O Sequestro do Voo 375 da média rasa dos filmes de ação.
Na pele de Nonato, está um dos atores com mais recursos em cena da nova geração: Jorge Paz. Criado na periferia do Distrito Federal, o artista tem consolidado a carreira com papéis de destaque em produções como o filme Marighella e as séries Irmandade, da Netflix, e Cangaço Novo, da Amazon Prime Video.
Herói dos ares
A missão suicida de Nonato só foi malsucedida porque encontrou a sua frente o piloto Fernando Murilo, vivido por um Danilo Grangheia também inspirado. Após ver seu copiloto ser morto com um tiro na cabeça pelo sequestrador, o comandante da aeronave suporta sozinho toda a pressão na cabine e media a negociação entre o raptor e uma agente da Força Aérea Brasileira (FAB), papel de Roberta Gualda que não tem correspondente na vida real, mas que representa uma voz feminina dentro da corporação à época misógina.
Como um super-herói dos ares, o ex-militar efetua manobras inimagináveis para um avião de porte comercial, é tudo tão surreal que o espectador custa a acreditar e se questiona se as execuções arriscadas seriam apenas adornos ficcionais. Surpreendentemente, as cenas de arrepiar são baseadas em relatos reais de passageiros que sobreviveram ao evento, o que torna o filme ainda mais empolgante.
Além dos protagonistas, o elenco conta ainda como nomes especiais e que entregam o esperado: Gabriel Godoy, César Mello, Juliana Alves, Wagner Santisteban, Arianne Botelho, Diego Montez, Claudio Jaborandy, Johnnas Oliva, Adriano Garib.
Memória do país
O Sequestro do Voo 375 esfrega na cara dos espectadores o quanto o brasileiro conhece nada ou muito pouco da própria história. É impressionante ver como uma caso que deveria ter servido de exemplo e promovido mudanças substanciais na aviação mundial, passou batido. Somente 13 anos depois, após o ataque às Torres Gêmeas, em 2001, é que os protocolos de segurança nos aeroportos foram revistos.
Dá gosto de ver o cinema nacional tão pulsante, entregando para os cinéfilos uma megaprodução, com atuações impecáveis e o resgate da memória adormecida do nosso país. O combo do melhor do entretenimento.
Avaliação: Ótimo.