metropoles.com

Crítica: O Primeiro Homem mostra a trajetória da humanidade à Lua

História real sobre o astronauta Neil Armstrong é melhor do que qualquer ficção espacial

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
O Primeiro Homem
1 de 1 O Primeiro Homem - Foto: null

Algo divino ocorre logo na primeira sequência de O Primeiro Homem, em que Neil Armstrong (Ryan Gosling) está tentando perfurar a atmosfera terrestre dentro de um jato do governo americano. Sozinho, ele avista o limite entre a terra e o espaço, a luz e a escuridão, o descoberto e o desconhecido. Como em várias outras sequências do filme, o piloto e engenheiro não diz nada, só olha, contempla e age. Em contraste, algo trágico acontece na segunda sequência do filme. Por mais que busquemos explorar mais, ir mais longe, o limite do homem é sempre a morte. É com a cabeça nas alturas e o pé à beira da cova que Damien Chazelle, vencedor do Oscar por La La Land, situa seus personagens e sua história.

O filme não é uma biografia. Não do homem, pelo menos, mas, sim, de um feito: a ida do homem à Lua, projeto promovido pelo presidente John F. Kennedy em 1961. Armstrong completaria a jornada 8 anos depois, e não vemos nem sua infância e nem o resto de sua história após o retorno. A vida de Armstrong neste período está dividida entre sua casa, onde mora com Jan (Claire Foy) e seus dois filhos, e o centro de treinamento, onde convive com Buzz Aldrin (Corey Stoll), Ed White (Jason Clarke), Mike Collins (Lukas Haas) e o lendário Gus Grissom (Shea Whigham).

5 imagens
Ryan Gosling no papel do primeiro ser humano a pisar na Lua
Damien Chazelle, de La La Land e Whiplash: diretor do filme
Longa é cotado para receber indicações ao Oscar 2019
Pôster de O Primeiro Homem
1 de 5

Janet Armstrong (Claire Foy), mulher do astronauta

Daniel McFadden/Universal Pictures/Divulgação
2 de 5

Ryan Gosling no papel do primeiro ser humano a pisar na Lua

Daniel McFadden/Universal Pictures/Divulgação
3 de 5

Damien Chazelle, de La La Land e Whiplash: diretor do filme

Daniel McFadden/Universal Pictures/Divulgação
4 de 5

Longa é cotado para receber indicações ao Oscar 2019

Daniel McFadden/Universal Pictures/Divulgação
5 de 5

Pôster de O Primeiro Homem

Universal Pictures/Divulgação

De certa forma, Chazelle uniu seus dois filmes prévios para montar este. De um lado, a precisão, a pressão e a missão de vida de Whiplash. Por outro, o desgaste e a tensão que isso causa num relacionamento, como foi em La La Land. O Primeiro Homem não é um filme sobre o espaço, mas, sim, sobre o ser humano. Assim, é um refresco em uma época que filmes espaciais flutuam na mediocridade (como Vida, Passageiros e Alien: Covenant).

Em termos técnicos, o filme é excelente, com fotografia, trilha e montagem, já óbvias concorrentes ao Oscar. Damien Chazelle resolve inovar, e parece mudar seu estilo de direção. Ele abandona os planos milimetricamente coordenados, com uma câmera estável, para enfatizar os close-ups, os planos-detalhe e a turbulência dos voos. Em vários momentos, ele situa a imagem no ponto de vista do astronauta, algo não visto em seus outros filmes. Ryan Gosling é a escolha perfeita de interpretação. Focado e de poucas palavras, seu Neil é levemente curvado para frente, como se seu balanço dependesse de movimento para frente.

Quem merece tanto destaque quanto o diretor e os atores é o roteirista Josh Singer (Spotlight). Suas cenas têm o mínimo de diálogo explicativo possível, e o silêncio é tão importante quanto o diálogo, especialmente por se tratar de um filme com grande foco na mortalidade. O espectro da morte é raramente verbalizado, mas ele sempre aparece, seja num balanço vazio, num copo quebrado ou num olhar preocupado. Como em poucas vezes vimos antes, a esposa do personagem principal existe não só como um poço de reclamações e de histeria mas como alguém empenhada no melhor para sua família.

Como não se trata de um spoiler que a missão é bem-sucedida, a sequência sobre a superfície lunar é a mais fascinante desde 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick. Frugal e poética ao mesmo tempo, silenciosa e contemplativa, retrata a solidão do ser humano, junto com sua insignificância perante o universo. A vista da Terra, longe, evoca o famoso discurso “pálido ponto azul”, de Carl Sagan. Hoje em dia, as crianças não sonham mais em serem astronautas, um lamento histórico.

Epílogo
A viagem à Lua ocorreu em 1969, ao final de uma das décadas mais turbulentas da sociedade ocidental. O Primeiro Homem, por sua vez, aparece em 2018, um ano antes do final de outra década agressiva e violenta. Às vezes, pode parecer improvável que a humanidade conseguiu um feito dessa grandeza na ponta do lápis e com computadores menos potentes do que os dos nossos celulares. Tão mais incrível é o real defronte da ficção que tolos, cínicos em suas avaliações sobre a capacidade humana, dizem até hoje que foi tudo uma mentira. É preciso acreditar, ainda nos momentos mais desesperançosos, que somos capazes de algo como isso.

Neil Armstrong nunca se chamou de herói, preferindo mencionar sempre as 400 mil pessoas que tornaram a ida à Lua possível. Seu nome é conhecido, mas seu rosto não. A maioria não reconheceria uma foto sua ou saberia dizer algum outro detalhe de sua vida além de sua jornada. O primeiro homem a pisar na Lua faleceu em 2012, aos 82 anos de idade. Na primeira foto tirada após seu retorno à cápsula lunar, ele aparece exausto, mas feliz.

Edward "Buzz" Aldrin/NASA
A primeira foto de Neil Armstrong após pisar na Lua

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Avaliação: Excelente

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?