Crítica: O Mundo Depois de Nós reflete sobre racismo e caos climático
O Mundo Depois de Nós, da Netflix, é o típico filme-catástrofe, mas adiciona reflexões sobre o racismo e o caos climático
atualizado
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Se depender da cultura pop (e das mais recentes notícias) é certeza que o mundo vai acabar. Tudo é uma questão de escolher a forma. Filmes-catástrofes já mostraram maremotos, zumbis, vírus mortais e O Mundo Depois de Nós aponta para outro lado: desconexão e desinformação.
O novo filme da Netflix, que estreia nesta sexta-feira (8/12), narra uma história extramente comum no mundo atual. Buscando, uma semana de paz, durante as férias, uma família aluga uma casa de praia no AirBnb. Pai, mãe e filhos vivem a experiência de habitar um imóvel luxuoso (aqui vale o contraste entre a parede rachada da casa deles com o acabamento requintado do espaço temporário).
Acontece que a experiência luxuosa e de paz é interrompida quando G.H. (Mahershala Ali) e sua filha, Ruth (Myha’la Herrold), batem na porta, se apresentam como os donos da casa e pedem para passar a noite no local. O motivo? Nova York sofre com um apagão e eles não querem enfrentar o caos que é uma grande cidade sem luz.
A partir desse momento, o casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) – junto dos filhos Rose (Farrah Mackenzie) e Archie (Charlie Evans) – precisam entender a situação: são aqueles os reais donos da casa? Há de fato um apagão? Qual o risco maior: o externo ou o interno?
Acontece que, enquanto tentam responder a essas perguntas, tão preocupados em se provarem certos, cada um dos envolvidos perde, de certa forma, a capacidade de ler os evidentes sinais ao seu redor – como faz questão de salientar o vizinho Danny (Kevin Bacon). É neste embate entre as famílias que temas como preconceito racial, machismo, paranóias e o vício da nossa sociedade na hiperconexão surgem como os pontos mais fortes da trama.
Sam Esmail (diretor e roteirista) adapta o livro homônimo de Rumaan Alam e mantém uma de suas melhores característas: tal qual os protagonistas, caminhamos no escuro, sem nunca saber o que, de fato, ocorre. Afinal, o fato que causa a eminente catástrofe é irrelevante, o ponto é sobre como reagimos a ela? Spoiler: na maior parte das vezes reagimos mal.
É interessante a ” brutal sutileza” do racismo de Amanda, somada as imagens que essencialmente exemplificam esse muro invisível com as paredes da casa. G.H. é um homem preto rico que sente o peso disso em uma sociedade racista, precisando sempre ser um exemplo de virtude. Ruth, sua filha, é explosiva ao perceber o racismo, mas teme as consequências da catástrofe.
Esmail usa de recursos visuais importantes, como ao filmar quedas de aviões e suas consequências: corpos espalhados. Abusa da ironia ao exibir um “engavetamento” de Teslas, mostrando que o futuro computadorizado pode ser uma distopia.
O Mundo Depois de Nós usa a catástrofe para discurtir o que resta de humanidade em um mundo hiperconectado, tecnológico e que, do nada, deixa de ver seus “gadgets” funcionarem. Spoiler: vale a pena ver.
Avaliação: Bom