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Crítica: O Grande Circo Místico reverencia a arte e o poder da criação

Novo filme de Cacá Diegues acompanha 100 anos de história da família Knieps, dona de um circo por cinco gerações

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1 de 1 o grande circo místico (9) - Foto: Divulgação

Filmes feitos no esplendor da terceira idade, especialmente aqueles que se referem às artes, se atolam no pântano da nostalgia com enorme frequência. A arte, retratada por artistas, é sempre divina, pura e transcendente. A expectativa para um filme chamado O Grande Circo Místico, com a direção de Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo, era de um grande trabalho água com açúcar, pelo menos para quem desconhece o poema homônimo inspirador do filme, de Jorge de Lima.

Bela surpresa descobrir que passa longe disso. Embora não isento do amor à arte, o filme brasileiro sustenta uma outra tese: o preço alto pago por quem se dedica à criação.

O longa é sobre o nascimento e a vida d’O Grande Circo Místico, comprado pelo aristocrata Frederic Knieps (Rafael Lozano), descendente de austríacos completamente apaixonado pela contorcionista Beatriz (Bruna Linzmeyer). É para ela que Knieps compra o circo, mas a vida que ele fantasia, dedicada ao seu grande amor, já é interrompida enquanto Beatriz está grávida do primeiro filho. São retratados 100 anos da família, durante 5 gerações.

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Circo é um filme episódico, no qual a história de cada geração da família Knieps é contada numa cápsula. Tal narrativa facilita a participação de um elenco grandioso, que Diegues parece ter escolhido a dedo. Estão na produção: Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Antônio Fagundes, Mariana Ximenes, Juliano Cazarré, Marina Provenzzano e o francês Vincent Cassel, grande contribuinte do cinema brasileiro.

O longa não se propõe a ser uma experiência completamente agradável. Sexo e violência proliferam, quase nunca em sua melhor forma: um homem adulto expõe seu pênis gigante para uma adolescente, crianças são geradas por estupro, um assassinato planejado é executado com perfeição, traições, incesto e charlatanismo ressoam por todo lado e o uso de drogas é frequente. Tudo isso embalado pelas músicas originais de Edu Lobo e Chico Buarque (feitas para uma peça desta história) e espetáculos circenses. Os personagens vêm e vão com seus lamentos, no fluxo implacável do tempo.

Um só personagem é testemunha de tudo: Celaví, o mestre de cerimônias que não envelhece. Personagem típico, talvez seja ele a parte fraca do filme. Enquanto todos os outros têm uma passagem breve demais para uma examinação de personagem profunda, Celaví é quem deveria carregar todo o peso dos temas. Porém, ele vai e vem como o vento, um tipo de Papai Noel que sorri quando as crianças acreditam nele e murcha quando o ignoram. Celaví é quem mais se assemelha a uma pura metáfora, quando é justamente ele, pelo tempo na tela, que deveria ser o personagem mais complexo.

Por isso, o filme é meramente bom, quando poderia ser um trabalho mais profundo. Dedicar-se à arte gera todo tipo de maldição, parece sugerir a obra de Diegues. O Grande Circo Místico oferece apenas dois confortos. A arte, quando performada e vista, suprime a dificuldade (a cena final destoa um pouco demais de todo o sofrimento que vimos anteriormente) e, finalmente, a única explicação para tudo que nos cerca: “C’est la vie”.

Avaliação: Bom

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