Crítica: nostálgico, Bumblebee é o melhor da saga Transformers
Prelúdio da franquia de robôs alienígenas traz roteiro escrito por mulher e protagonismo feminino com autêntica personagem adolescente
atualizado
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Prelúdio de Transformers, o filme Bumblebee é um exemplo ideal de como renovar uma franquia que começava a parecer enferrujada. Apesar das bilheterias parrudas, os cinco títulos da saga, todos dirigidos por Michael Bay e lançados num espaço de dez anos, já mostravam rugas de um universo repetitivo e autoderivativo, quase num beco sem saída.
Nada como emprestar um ar feminino e suavizar um pouco a masculinidade (sim, algo tóxica e incômoda) dos filmes de Bay. O longa é dirigido por um homem, Travis Knight, da boa animação Kubo e as Cordas Mágicas (2016), mas tem roteiro assinado por Christina Hodson (Paixão Obsessiva) e protagonismo da atriz e cantora Hailee Steinfeld, indicada ao Oscar por Bravura Indômita (2010).
Bumblebee, o Autobot, tem suas origens desvendadas. E elas são penosas. No fim dos anos 1980, o planeta Cybertron, dos Transformers, se vê em ruínas com as ameaças destrutivas dos Decepticons durante uma virulenta guerra civil. B-127, nome de batismo do nosso robozinho amarelo, se exila na Terra a mando de Optimus Prime. Aqui, disfarçado como um velho Fusca, protegerá os humanos e montará as bases da resistência contra os rivais.
Ele encontra na adolescente californiana Charlie Watson (Steinfeld) alguém para ajudá-lo a se reerguer. Ela, um roqueira fã de estilos variados, de Smiths a Motörhead, se vê distante da família (mãe, padrasto e irmão mais novo) e ainda enfrenta o trauma de ter perdido o pai, com quem aprendeu a amar automóveis.
Prestes a fazer 18 anos, só quer um carro para se sentir livre. Consegue mais do que isso: um amigo. Mui bem escrita, a personagem respira autenticidade e lembra, por sinal, a protagonista de Quase 18 (2016), ótima comédia teen estrelada por Steinfeld.
Ao contrário de boa parte das mulheres roteirizadas por homens, ela não precisa de um romance para se ver madura e segura de si. Memo (Jorge Lendeborg Jr.), vizinho e colega, revela interesse em algo a mais, mas Charlie prefere conhecê-lo melhor antes de qualquer coisa.
Obviamente, Bumblebee não é um filme sem falhas. Vacila sempre que precisa se filiar à franquia principal, tentando emular, sem sucesso, os cacoetes visuais de Bay. A melhor sequência de ação, não por acaso, envolve o robô alienígena andando todo atrapalhado pela casa de Charlie. Personagem de John Cena, o militar Burns também soa deslocado do eixo principal.
No mais, é uma graça de filme. Sabe articular a nostalgia em prol da narrativa e não por mero fetichismo comercial. A roqueira ensina Bee a falar por meio do toca-fitas, por exemplo. E sobram referências cinematográficas bem-vindas: o clima sentimental spielberguiano, as alusões diretas à animação O Gigante de Ferro (1999) e à romcom Digam o que Quiserem (1989). Um dos melhores blockbusters de 2018.
Avaliação: Bom