Crítica: na Netflix, El Camino é sequência morna de Breaking Bad
Longa escrito e dirigido por Vince Gilligan acompanha Jesse Pinkman (Aaron Paul) tentando recomeçar a vida após o fim da série
atualizado
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El Camino, o filme da Netflix que dá sequência ao episódio final de Breaking Bad, Felina, reabre a trama exatamente de onde o series finale parou. Walter White (Bryan Cranston), ferido gravemente, de fato morreu – “ressurge” em breve flashback num café. Jesse Pinkman (Aaron Paul), livre do cativeiro, dispara dirigindo o carro de Todd (Jesse Plemons) – um El Camino – rumo à liberdade. Como se vê ao longo das duas horas de longa, o martírio do personagem continua por alguns dias.
Escrito e dirigido por Vince Gilligan, criador do seriado, El Camino serve como apêndice tardio de uma história que já parecia fechada, sem tanta necessidade de continuação. White morto, Pinkman finalmente solto da jaula desumana onde estava preso.
Para tal, Gilligan forja uma espécie de drama existencial pós-trauma para Pinkman. Depois de tanta barbárie praticada e testemunhada o lado de White, é possível recomeçar do zero? Foragido e procurado pela polícia, o agora ex-traficante de metanfetamina só quer refúgio e descanso. Mas no mundo perverso de Breaking Bad, sabe-se, nada vem de graça ou de bandeja.
A duração deveras dilatada de El Camino permite a Gilligan preencher alguns espaços deixados pela série. Flashbacks mostram conversas com Mike (Jonathan Banks), ex-parceiro da dupla de “cozinheiros”, detalham a relação tensa de Pinkman e Todd no cativeiro, um passeio de carro com a namorada, Jane (Krysten Ritter), morta de overdose anos antes. Ah, e claro: o tal “retorno” de White numa conversa sobre o nebuloso futuro do ex-aluno.
Extra de Breaking Bad
Essas pinceladas obviamente informam a trama do filme. Após reencontrar os parças maconheiros de sempre, Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones), Pinkman faz uma visitinha ao apartamento de Todd em busca de alguns milhares de dólares.
Eis o plano: usar a grana para pagar Ed (o subestimadíssimo Robert Forster), comerciante de aspiradores de pó, por seus serviços. O sujeito é especialista em elaborar novas identidades para fugitivos, jurados de morte e outros párias.
Gilligan faz questão de levar um pouco da cadência meditativa/agressiva deveras, digamos, cinematográfica da série para El Camino. E o filme até consegue soar instigante em alguns momentos isolados de neofaroeste, sobretudo nas cenas de fuga e nos breves e faiscantes confrontos com desafetos.
Mesmo apoiado no carisma de Paul, o longa jamais vai além de um anexo um tanto dispensável de Breaking Bad, talvez de olho em (velhos e novos) fãs maratonando a série. Não propõe nada mais do que um punhado de cenas extras (inéditas e nostálgicas) e confirma o que se imaginava – uma segunda chance para Pinkman.
Avaliação: Regular