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Crítica: Mare Nostrum traz magia e poesia para as relações familiares

Com direção de Ricardo Elias, a obra ganha pela simplicidade e ausência de efeitos especiais

atualizado

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Mare Nostrum, filme que estreia nesta quinta-feira (4/10), apresenta um roteiro original e passa longe das batidas comédias românticas – gênero dominante entre as produções cinematográficas nacionais presentes no circuito comercial. Com direção de Ricardo Elias (Os 12 Trabalhos), o ponto forte da obra está em incluir magia e poesia em um relato cotidiano. Ganha, ainda, pela simplicidade e a ausência de efeitos especiais. O olhar lúdico ou cético a respeito dos acontecimentos fica a cargo do espectador.

Com uma fotografia irretocável, o longa começa com uma cena de encher os olhos. Dois homens negociam, sob forte temporal, a venda de um terreno no litoral sul paulista. Os filhos assistem à cena de dentro dos carros e, como num passe de mágica, o desejo de tempo bom se realiza. O ano é 1982 e Sócrates é o grande craque da Seleção Brasileira.

Depois, o tempo corre para 2011. As crianças, agora adultas, passam por uma fase de incerteza profissional e, consequentemente, financeira. Roberto (Silvio Guindane) é um jornalista esportivo que volta ao Brasil sem emprego e com uma tentativa de carreira de escritor frustrada. A filha adolescente, Beatriz (Lívia Santos), está impedida de assistir às aulas no colégio particular por falta de pagamento das mensalidades.

Já Mitsuo (Ricardo Oshiro) volta para a casa do pai, em Santos, após perder tudo no tsunami que destruiu o Japão. Encontra sua família passando por dificuldades e o pai em uma cadeira de rodas após sofrer um derrame. É nesse contexto que as vidas dos dois voltam a se cruzar. Cada um à sua maneira pretende, então, lucrar com a venda do terreno, há anos abandonado.

Nesse processo, o espectador decide como irá encarar os acontecimentos mirabolantes que se seguem. Se dá crédito ao terreno, como fazem os personagens de Silvio Guindane e Lívia Santos, ou se acredita numa sequência de coincidências como Orestes, corretor de imóveis, vivido de forma impagável por Carlos Meceni.

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Representatividade
Há muito, atores e atrizes negras clamam não só por mais papéis, no sentido quantitativo, mas também por personagens que fujam dos estereótipos reforçados por anos e uma exposição equivocada de seus corpos. É uma delícia ver uma família negra de classe média na qual a mãe é uma socióloga aposentada, o filho é jornalista e a neta é estudante do ensino privado. E o mais importante: sem precisar de uma explicação, sem precisar dizer como eles chegaram até essa posição. Eles apenas são. É possível dizer o mesmo do núcleo asiático.

Um ponto franco é a porosidade e previsibilidade de alguns diálogos. Mas a obra ganha pela delicadeza e lucidez com que trata das mágoas existentes nas relações entre pais e filhos. Um olhar honesto e muito bem conduzido por Ricardo Elias.

 Avaliação: Bom

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