Crítica: “Mãe!” tem título exclamatório, mas ritmo cuidadoso
O filme é um quebra-cabeça até simples, no final das contas, mas que vai gerar discussão entre seus espectadores até o final do ano
atualizado
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Se a razão pela qual você se interessou em assistir “Mãe!”, do diretor Darren Aronofsky, foi o trailer, é necessário dizer que este não é o filme prometido por sua campanha de marketing. Parece fácil vender uma produção estrelando Jennifer Lawrence e Javier Bardem, pois são atores bem avaliados tanto pelo público quanto pela crítica.
Aronofsky, porém, está longe de ser aclamado por todos. Por ele, tudo bem. Seus filmes são feitos para causar discussões, e certas acusações de que assisti-los é ir a sessões de terapia do próprio diretor não são de todo infundadas.
Em seu novo trabalho, Lawrence e Bardem vivem um casal habitando uma mansão rural, isolada de tudo e de todos. Ele é um escritor buscando inspiração para o seu próximo trabalho e ela está terminando a restauração da casa, previamente destruída em um incêndio. Certa noite, um estranho bate à porta e a partir daí cada vez mais gente vai aparecendo em busca do autor, um crescendo de desconforto e desespero para a mulher.
A primeira cena do filme já mostra algo sobrenatural e metafórico acontecendo: Bardem, no meio das cinzas de uma casa, coloca um gigante diamante num pedestal. Milagrosamente, os danos são reparados. Isso já é uma dica, desde o início, de que os personagens do filme não são pessoas como nós, no sentido de que não estamos assistindo a uma história que poderia acontecer amanhã, ou na semana que vem, mas sim que este se trata de um trabalho conceitual de alegoria e simbolismo.
É difícil fazer uma discussão sem revelar a intenção da trama, que envolve todo tipo de referência, desde a Bíblia e a cosmologia até a representação do próprio Aronofsky como um artista. Por ser um quebra-cabeça, é normal, no meio do filme, achar que você nunca descobrirá o que diabos está acontecendo, mas quando o filme terminar, pode-se ter a certeza de que ele fará sentido. Não é nada complicado, e portanto se trata aqui de um filme sobre o qual a conversa depois da sessão deva se estender bastante.
É um filme pesado, não muito prazeroso, e seu maior defeito é que, por se tratarem de personagens simbólicos, nunca conseguirmos nos relacionar com o que Bardem e Lawrence estão passando. O filme nunca consegue conciliar nossa vontade de descobrir o que está de fato acontecendo com a necessidade de nos importarmos com seus personagens.
Avaliação: Bom