Crítica: “Liga da Justiça” mostra que DC precisa de novas ideias
Longa de Zack Snyder junta pela primeira vez os heróis do alto escalão da editora. Porém, ranços narrativos sufocam potencial de fabulação
atualizado
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Não tem dia fácil no Universo Estendido DC, a franquia que traduz para cinema os personagens da editora. Depois de uma produção tumultuada, com cenas adicionais rodadas com o filme já pronto e a entrada de Joss Whedon (ex-Marvel e autor de dois “Vingadores”) para terminar o trabalho do diretor Zack Snyder, “Liga da Justiça” finalmente projeta na telona a primeira reunião de trabalho de Batman, Mulher Maravilha, Superman, Aquaman, Ciborgue e Flash.
É quase incontornável não falar dos bastidores envolvendo o longa, sobretudo a saída de Snyder por causa do suicídio da filha e os constantes ajustes e refilmagens impostos pelo estúdio Warner para ajustar o tom e deixar o filme mais leve e “otimista”.
Mas os problemas de “Liga da Justiça”, curiosamente, não parecem herança da produção atribulada. A própria DC vinha enfrentando ruídos de ordem criativa, a julgar pela recepção fria da crítica e um tanto indiferente do grande público a “Batman vs Superman” (2016) e “Esquadrão Suicida” (2016).
Mas, eis que “Mulher-Maravilha”, lançado no primeiro semestre de 2017, trouxe vida a uma saga que parecia débil e previsível. A personagem de Gal Gadot continua a melhor coisa do universo DC quando entramos em “Liga da Justiça”.
Bem Menos “gorduroso” que “Batman vs Superman” (151 minutos na versão de cinema, 183 no corte estendido) por exigência da Warner, “Liga da Justiça” tem pouco menos de duas horas para apresentar Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller), ressuscitar Superman (Henry Cavill) e convocar essa turma para dar um fim ao Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), um alienígena militaresco que obviamente quer demolir tudo e todos, e ao seu exército de parademônios.
Pequenos avanços, mas aridez de novidades
Os tais compromissos narrativos não deveriam representar apuros, mas um enorme potencial de fabulação. E que oportunidade desperdiçada. A DC pretende corrigir os problemas de fundo dramático – atenuar delírios de grandeza e emplacar uma aventura prazerosa – vistos em “Batman vs Superman” dos jeitos mais preguiçosos possíveis.
O atalho mais fácil é tentar replicar no universo DC o que dá certo no concorrente MCU, o Universo Cinematográfico Marvel, saga mais lucrativa da história do cinema que teve larga vantagem na atual corrida de franquias em Hollywood – começou em 2008, enquanto a DC consolidou seu atual ciclo em 2013, com “O Homem de Aço”. Sobretudo o humor integrado à ação.
Um dos caminhos encurtados é usar o Flash como alívio cômico para a dinâmica de equipe deveras carregada de seriedade, já que Batman (Ben Affleck) passa boa parte do filme recrutando meta-humanos com um senso tanto de justiça como de resgate da fé (no deus kryptoniano que terminou “Batman vs Superman” derrotado e morto).
Também não ajuda a construção do Lobo da Estepe como mais um antagonista musculoso e que parece não conhecer suas próprias capacidades místicas. A criatura almeja juntar as três Caixas Maternas, fontes perpétuas de poder, mas só sabe mesmo distribuir porrada e brandir seu machado contra os heróis.
“Liga da Justiça” mostra avanços em relação a “Batman vs Superman”, mas também evidencia que a tal visão artística de Snyder soa incapaz de entregar novas ideias. Afinal, o problema da DC nunca foi apostar em filmes sombrios. Mas, sim, uma pretensa eloquência mitológica no lugar de uma entrega mais confiante ao poder (e aos riscos) da fantasia.
Avaliação: Regular