Crítica: Keira Knightley tenta evitar guerra em Segredos Oficiais
Atriz se destaca ao viver Katharine Gun, tradutora que vazou planos dos EUA para constranger membros da ONU a apoiar Guerra do Iraque
atualizado
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Segredos Oficiais, filme baseado em fatos com Keira Knightley no papel de corajosa informante, volta à década de 2000 e forma pontos de contato inegáveis com as tensões internacionais do mundo de hoje. Espionagem, vazamento de informações confidenciais, conspirações governamentais e mentiras deslavadas contadas de púlpito por representantes políticos. O imediato pós-11 de setembro era (e ainda é) deveras estranho.
Indicada ao Oscar por Orgulho e Preconceito (2005) e O Jogo da Imitação (2014), Knightley brilha ao interpretar Katharine Gun, tradutora do GCHQ (órgão de inteligência do Reino Unido) que vazou memorando da NSA, a agência nacional de segurança dos Estados Unidos, detalhando intenções no mínimo sinistras do governo de George W. Bush.
À época, a narrativa de guerra ao terror não encontrava apoio popular suficiente para que os EUA, em aliança com Reino Unido e outras nações, invadissem o Iraque para derrubar Saddam Hussein. As supostas investigações que indicavam ligações do então ditador com a Al-Qaeda, organização responsável pelos ataques ao World Trade Center, e presença das tais armas de destruição em massa no país também não convenciam – e, de fato, eram mentirosas, como saberíamos depois.
Pois bem. O documento vazado por Gun para Martin Bright (Matt Smith), repórter do The Observer, dava instruções a agências de inteligência como CIA e MI6 para espionar delegações de países do Conselho de Segurança da ONU. O objetivo era constranger esses diplomatas para que votassem a favor de uma resolução para a invasão do Iraque. Sim, ela se meteu com gente graúda.
Thriller sóbrio – até demais
Knightley vai muito bem ao emprestar naturalidade à personagem: não uma espiã esperta, mas uma jovem inglesa indignada com a chantagem descarada que acaba de identificar. Uma atuação de pouquíssimos arroubos, mesmo quando a informante é acusada de traição e de ter falsificado o memorando.
Parte disso se deve ao trabalho igualmente comedido do diretor Gavin Hood, sul-africano de Infância Roubada (2005) que assinou o tenebroso X-Men Origens: Wolverine (2009) e depois os apenas regulares Ender’s Game (2013), sci-fi teen, e Decisão de Risco (2015), thriller sobre guerra com drones.
Hood, coautor de roteiro que adapta o livro The Spy Who Tried to Stop a War, investe numa trama mais apegada às repercussões e dilemas pessoais – o que importa mais, eu ou o país? – de um vazamento dessa magnitude do que em procedimentos estratégicos de thriller, reviravoltas e traições.
Segredos Oficiais ganha pontos ao evitar esses atalhos. Ao mesmo tempo, funda-se em uma narrativa quadradinha e até um tanto insossa, sem jamais sugerir nada mais do que um drama inspirado em fatos moderadamente empolgante.
Avaliação: Regular