Crítica: Guillermo del Toro justifica ter seu nome em versão de Pinóquio
Premiado cineasta mexicano, Guillermo del Toro assina uma versão potente e bela do clássico Pinóquio, que está disponível na Netflix
atualizado
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O novo filme da Netflix tem, em si, várias novidades (e, aqui, caro leitor, é impossível não se repetir): é a visão de um diretor estrelado para o conto de Carlo Collodi, escrito no século 18. A junção vira algo inédito, sensível e brilhante: isso é o Pinóquio por Guillermo del Toro.
O filme justifica o nome do diretor logo no título. A saga do menino de madeira que ganha vida já foi contada diversas vezes – em animação e na recente versão live action do Disney+. Porém, no longa da Netflix, de fato há uma (ou várias) questões nunca exploradas na fábula.
Não se engane: o grosso da história está lá. Mas Pinóquio de Guillermo del Toro vai além e adiciona novas camadas. Tem a crítica da violência brutal da guerra, uma visão infantil da estupidez do fascismo, o amor de uma família, um debate sobre a finitude da morte e uma discussão profunda sobre o que é a vida.
A cada quadro e subtrama que compõem a teia do longa, que tem roteiro assinado por del Toro, um mundo se abre: o diretor coloca seu lado mais fantasioso no visual ao mesmo tempo que produz diálogos incrivelmente afiados. A cena que envolve Pinóquio, Gepeto e um grande cristo de madeira é capaz de emocionar a todos.
Um novo e belo Pinóquio
E nessa aventura, outro prêmio que vai para del Toro, posicionar a trama em meio à Itália fascista da década de 1930 cria uma nova leitura política ao conto. E abre caminho para se discutir outros horrores decorrentes, que vão da hipocrisia religiosa ao desespero.
É possível que, até aqui, você pense: então não é um filme infantil. Assim como O Labirinto do Fauno (2006), Guillermo del Toro adiciona camadas políticas e sociais a trama, mas sem perder sua essência e beleza. É, sobretudo, uma linda história de amor e aventura entre um pai (Gepeto) e seu diferente novo filho (Pinóquio). Tudo em uma trama que une adultos e crianças.
Os pequenos, ao menos, podem se encantar com o Pinóquio de Mark Gustafson, uma das lendas da animação em stop-motion. Ao contrário do caratér cartunesco daquele da Disney, este é um ser de madeira, com gravetos grudados ao corpo e um grilo (mais realista) falante que o acompanha. As texturas dos personagens tornam tudo ainda mais belo.
Pinóquio de Guillermo del Toro é, sem dúvidas, uma das principais surpresas de 2022, e, mesmo que quase no apagar das luzes do ano, se candidata ao prêmio de melhor do ano.
Avaliação: Excelente