Crítica: Godzilla II: Rei dos Monstros é enfadonha guerra de titãs
Sequência de Godzilla (2014) narra o despertar de monstros gigantes que ameaçam a vida na Terra
atualizado
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Godzilla II: Rei dos Monstros, terceiro filme do MonstroVerso e sequência de Godzilla (2014), segue uma infame tradição de Hollywood quando o assunto é o mais popular e temido monstro japonês da cultura pop: a indústria dos EUA continua não acertando na caracterização do gigantesco bicho marinho.
Com direção de Michael Dougherty, diretor do terror Krampus (2015), a franquia de criaturas colossais amplia (e muito) a escala já vista no primeiro longa e no decente Kong: A Ilha da Caveira (2017). Ao mesmo tempo, o resultado final soa como um trailer morno do aguardadíssimo Godzilla vs. King Kong, previsto para março de 2020.
Desta vez, o Gojira, como chamam os japoneses, assume sua clássica verve de antiherói. A Monarch, organização especializada em descobrir esses seres ancestrais, coloca a Terra em risco ao pesquisar e até tentar se comunicar, através de uma espécie de sonar, com outros titãs. Um deles é Ghidorah, dragão de três cabeças e principal inimigo do personagem-título.
Godzilla II faz um esforço hercúleo para tentar equilibrar a porradaria dos monstrengos, obviamente construída digitalmente, e os dramas humanos esmagados pelo ressurgimento desses “deuses”.
Dougherty, também autor do roteiro ao lado de Zach Shields, não acerta nem aqui nem ali. O núcleo “microscópico” envolve a cientista Emma Russell (Vera Farmiga), seu ex-marido, Mark (Kyle Chandler), egresso da Monarch e um ferrenho defensor de que os monstros sejam destruídos o quanto antes, e a filha dos dois, Madison (Millie Bobby Brown, estrela de Stranger Things).
As confusas motivações de Emma, principal nome da Monarch na linha de frente da pesquisa com as criaturas, representam apenas os ruídos mais óbvios da trama. Os cientistas cometem os erros e as decisões mais convenientes possíveis para dar algum relevo humano à guerra de titãs.
Madison, apesar do esforço da atriz, parece sem função na trama, bem como o ecoterrorista Jonah (Charles Dance). O núcleo asiático, centralizado em Ishiro (Ken Watanabe) e Ilene (Zhang Ziyi), só passeia pela história para dar uma falsa autenticidade oriental.
Se a caracterização do numeroso núcleo humano decepciona, o que dizer dos monstros, os reais protagonistas de Godzilla II? Há um apelo natural em mostrar seres trocando golpes e, de quebra, reduzindo metrópoles inteiras a pó.
Mas o filme esbarra o tempo inteiro num visual no mínimo preguiçoso e abusa dos momentos deus ex machina – pelo menos três. Batalhas noturnas sob forte chuva e parca iluminação de cena tentam evocar um ar de fim de mundo. Sem sucesso. Toda essa massa cinzenta e azulada resulta em cenas de ação confusas, escuras e escoradas em zoom in – uma maneira ingênua de colocar o público no calor da guerra.
Quer ver um Godzilla contemporâneo bom de verdade? Procure Shin Godzilla (ou Godzilla Resurgence), de 2016.
Avaliação: Regular