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Crítica: Furiosa explora personagens em épico que expande mitologia

Furiosa: a Mad Max Saga estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (23/5). O Metrópoles já assistiu ao novo filme no Festival de Cannes

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Foto colorida do filme Furiosa: a Mad Max Saga
1 de 1 Foto colorida do filme Furiosa: a Mad Max Saga - Foto: Reprodução

Cannes (França) – Ainda que oriundo de uma franquia estabelecida com um diretor experiente, Estrada da Fúria foi uma aposta arriscada que ousou substituir Mel Gibson por Tom Hardy e tornar Max Rockatansky coadjuvante da história que levava o seu nome. No lugar dele, Imperatriz Furiosa, que nasceu icônica pela atuação de Charlize Theron e tem agora a mitologia enriquecida por Anya Taylor-Joy e Ayla Browne (na infância) em Furiosa: Uma Saga Mad Max. Diferentemente do desafio do antecessor, trilhar uma estrada incerta que o levou à conquista de 6 Oscars (merecia mais!), o de Furiosa é o de honrá-lo. E George Miller evitou repetir a fórmula de ação intensa e ininterrupta em favor de uma abordagem épica.

Dezoito anos separam o rapto de Furiosa da idílica Cidadela Verde até ter se tornado a Imperatriz que salvou as esposas de Immortan Joe da violência a que estavam submetidas em Estrada da Fúria. Um período condensado habilmente por George Miller em aproximadamente 2 horas e meia, estruturadas de maneira operática em 5 atos, que cobrem os eventos capitais que definiram Furiosa. Em vez de a história de origem enfraquecer a personagem, valoriza os eventos de Estrada da Fúria e não procura se escorar senão em parte do conceito visual pós-apocalíptico (com o dia alaranjado em contraste com a noite expressivamente azulada). Há apenas acenos, não uma nostalgia descontrolada, apoiando a narrativa na tragédia de vingança da personagem-título contra o homem que matou sua mãe – ele é Dementus, interpretado por Chris Hemsworth em seu melhor papel até então.

Vingança e épico em Furiosa

A vingança remete ao original de 1979, lançado há mais de 45 anos, e abastece o motor V8 de uma protagonista implacável que dispensa palavras supérfluas, em prol do agir. E Anya e Ayla têm uma presença fortíssima no olhar, equilibrada com o jeito verborrágico, bonachão e violento do ‘salvador da pátria’ de Hemsworth, que optou pelo caos para enfrentar o luto.

Cada ato desta ópera pós-apocalíptica no deserto australiano acrescenta ao desenvolvimento dos personagens, da mesma forma que as cenas de ação parecem extensões da personalidade individual. O Pretório Jack de Tom Burke, o mais perto que teremos do código de honra de Max na narrativa, é frio e controlado, enquanto Furiosa é imprevisível e insidiosa e Dementus, ególatra a começar pelos veículos que conduz: uma biga romana formada por motocicletas ou um carro monstro.

Só que a ação não é o objetivo final como era em Estrada da Fúria, em que a trama era a justificativa para iniciar a perseguição, mas é o meio pelo qual os personagens expressam vontades e desejos. Há decisões visuais criativas, como o anterior, em forma de paraquedas ou asa-delta, mas a ação é menos pervasiva e o ritmo menos frenético (por exemplo, não há a técnica do frame ramping, que consiste em ajustar a quantidade de quadros por segundo para dar a impressão de maior aceleração da movimentação). O foco está no aprofundamento dos personagens e na ampliação da mitologia (há um momento que um ou outro produtor irá sugerir como ideia para um outro capítulo), e a compreensão do conceito de saga e épico que dispensa vinte e cinco filmes para tal.

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Furiosa: a Mad Max Saga
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A estrada de Furiosa é da abundância à escassez, do altruísmo à vingança e do teor religioso contido em uma personagem que rouba o fruto proibido (um pêssego e não uma maçã) até iniciar a revolução contra o patriarcado – representado na figura de Dementus e Immortan. Esta estrada mimetiza o mundo de guerras que George Miller apresenta na introdução e que associa com o ontem e o hoje, um mundo de homens para homens, não de mulheres para todos.

É por essa razão que Furiosa atravessa um processo de transformação visual que a capacita a sobreviver naquele mundo, e, de dentro para fora, talvez mudá-lo para melhor (a partir de uma imagem final marcante e intrigante no recorte narrativo e simbólico). Nem que esta imagem seja mais uma lenda, do que fato.

E a despeito de ser uma obra que discute a importância de um historiador, Furiosa decide imprimir a lenda e, ao fazê-lo, agiganta uma já imensa personagem do jovem clássico de 2015.

Confira o trailer:

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