Crítica: Entrevista com o Demônio tem trama envolvente sobre possessão
O filme traz a história de Jack Delroy (David Dastmalchian), que tem um talk show e faz pacto para ter sucesso
atualizado
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Entrevista com Demônio, dos diretores australianos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, chega aos cinemas nesta quinta-feira (4/7), explorando a temática de possessão. O filme traz uma história bem amarrada, chamando bastante atenção e prendendo os amantes de terror. Entretanto, opta por trazer um final bastante fantasioso e peca em seu encerramento.
No longa, Jack Delroy (David Dastmalchian) é um apresentador de TV que está buscando reviver os tempos de glória de seu programa, o Night Owls. Ele perde a motivação após a morte de sua esposa. A última esperança do apresentador é um especial de Halloween, em 1977. Ele reúne um clarividente, um cético e uma dupla que prometia bastante, formada por uma menina possuída e sua tutora.
A temática é bastante interessante e envolve dois gêneros: terror e o found footage, que é são filmagens feitas por uma câmera simples e que passam a impressão de que foram encontradas por acaso. Bruxa de Blair, por exemplo, é um grande representante desse tipo de produção.
Assim, Entrevista com o Demônio é uma ficção que passa a impressão de documentário. Por conta dessa característica, a obra consegue prender o espectador, deixando-o ansioso pelos acontecimentos seguintes, como um bom filme do gênero deve ser.
Aliado a isso, a forma como os irmãos Cairnes constroem as sequências mostra que tudo foi feito de uma maneira bem paciente. Algumas pessoas podem não gostar dessa característica, já que as cenas de terror, que de fato importam e dão nome ao filme, acontecem já com um certo tempo de tela. Entretanto, tudo o que vem antes é necessário para que seja entendido pelos espectadores.
Os atores do filme também dão o nome. Desde o protagonista vivido David Dastmalchian, já conhecido por outras grandes produções como Oppenheimer, Batman, Blade Runner 2049, Esquadrão Suicida, por exemplo, Ingrid Torelli (a menina possuída), Laura Gordon (tutora), Ian Bliss (cético) e Fayssal Bazzi (clarividente).
É bem interessante que cada um assume sua posição e traz características específicas para compor o personagem, com a caricatura que cada um precisa, seriedade, humor tóxico e até o terror necessário. É assim que você dá risada, fica com medo, preocupado e entra, ainda mais, na história que os australianos querem passar.
A forma como é apresentada a possessão também foi feita de uma maneira bem diferente do que é praxe no terror. A trama, como já citada, acontece de uma forma mais lenta e mostra como Jack construiu a sua carreira até o fatídico especial de Halloween.
O terceiro ato, que já mostra o programa bombando e é onde tudo acontece, traz acontecimentos para lá de interessantes, com um debate interessante entre a dualidade do que é certo fazer: ganhar audiência a qualquer custo ou evitar expor pessoas, mesmo que isso lhes traga algum mal.
Outra crítica que o filme busca trazer é sobre o ceticismo e causas espirituais. Na trama, Carmichael Hunt (Ian Bliss) tenta provar, de todas as maneiras, que acontecimentos sobrenaturais não existem e até oferece um cheque, que começa em US$ 100 mil e depois vai para US$ 500 mil, para quem lhe provar o contrário. É, em grande parte, culpa dele, que o filme tem as suas viradas e que chama ainda mais atenção.
O longa ainda conta com referências a outros clássicos do terror e similaridades com o Bohemian Grove, um grupo frequentado apenas por homens, recrutados principalmente da elite política, econômica, artística e da mídia dos Estados Unidos. Na trama, Jack faz parte do The Grove, que carrega características bem semelhantes com essa “seita”.
É desse grupo que surge a jovem Lilly. Por conta de investigações contra o líder, ele e seus pupilos colocam fogo na casa onde o grupo fica estabelecido e somente a garotinha é salva. Entretanto, ela sai de lá possuída pelo demônio.
O final pode não agradar muitas pessoas, já que há um exagero em relação à atuação do demônio em cena, que chega a perder a sobriedade conquistada até aqui e até mesmo em um hipnotismo feito pelo personagem de Bliss.
As últimas cenas trazem atuações para lá de inusitadas de Jack Delroy e fecham o filme. Com chave de ouro? Talvez não, mas que comprovam o protagonismo do apresentador e de sua figura na televisão.
Se você gosta de um bom filme de terror, que ainda alia a found footage, esse filme é para você.