Crítica: em Reino Ameaçado, Jurassic World recicla ideias manjadas
Erupção vulcânica, novo dinossauro criado em laboratório e plano maquiavélico de comercializar animais formam a trama da continuação
atualizado
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Poucos filmes de franquia de Hollywood em 2018 serão tão preguiçosos quanto Jurassic World: Reino Ameaçado, sequência de Jurassic World (2015) que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta (21/6).
Se o capítulo anterior abusou da nostalgia ao funcionar como versão anabolizada e com “mais dentes” de Jurassic Park (1993), a continuação parece seguir o caminho natural de expandir algumas ideias do longa de 2015 – a tentativa de militarizar os dinossauros e o coquetel de genes para formar um animal perfeito, por exemplo – e se filiar à primeira sequência da franquia, O Mundo Perdido (1997), também assinada por Steven Spielberg.
Owen Grady (Chris Pratt), o treinador amigo dos velocirraptores, e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), ex-gerente de operações do parque destruído em Jurassic World, continuam na condição de casal em potencial.
Eles voltam a unir interesses – a defesa dos dinossauros – e flertes bobinhos quando Eli Mills (Rafe Spall), braço direito do moribundo ricaço Benjamin Lockwood (James Cromwell), cocriador do primeiro parque temático, chama-os para uma missão um tanto suicida: orientar uma equipe a remover os animais da ilha Nublar e transportá-los para outra, um “santuário”, antes que uma erupção vulcânica imponha aos bichos uma segunda extinção.
Mills não dá a mínima para a sobrevivência dos dinos (pasmem!) e bola um plano maquiavélico: trazer os animais para o continente a fim de vendê-los para compradores internacionais – entre eles, traficantes, criminosos e até empresários que vislumbram explorar os “produtos” em circos.
Reino Ameaçado seria um filme minimamente simpático se não dependesse tanto de temas já vistos antes. A própria transformação dos animais em armas começou em Jurassic World e pouco avança no novo filme. O prólogo mostra que uma equipe de mercenários comandada por Mills visitou Nublar antes da missão de salvamento, para coletar DNA do falecido Indominus Rex.
Desta vez, o doutor Henry Wu (BD Wong) forja o Indoraptor, um híbrido perfeito de tiranossauro e velocirraptor, capaz de obedecer ordens humanas para matar e destruir. O projeto ainda envolve usar o DNA do último raptor vivo, Blue, para criar versões aprimoradas do novo espécime. Mais um superdino destinado a ser um vilão previsível e convenientemente abatido por um colega.
O retorno dos animais a uma cidade lembra o eixo principal de O Mundo Perdido (1997). A diferença é que Reino Ameaçado adia o caos urbano o quanto pode. Provavelmente veremos se há possibilidade de coexistência de humanos e dinossauros no próximo longa.
Colin Trevorrow, diretor de World, deixa o cargo para o espanhol Juan Antonio Bayona, conhecido por O Orfanato (2007). Ele tenta trazer para a franquia um pouco do seu terror, arraigado na fantasia, ao criar um sem-número de cenas de monstro – com direito a uma garra do Indoraptor pairando sobre a cama da menina Maisie (Isabella Sermon), neta de Lockwood, trêmula de medo sob o lençol.
O suspense dá os seus sustinhos, mas parece faltar ação e senso de aventura à narrativa. Trevorrow segue como roteirista ao lado de Derek Connolly, o que garante personagens tomando decisões estúpidas o tempo todo – Ken (Ted Levine), líder dos mercenários, entra na jaula do Indoraptor para extrair um dente e ostentá-lo como troféu – e reviravoltas mirabolantes – Maisie, a garotinha spielberguiana, é quem decide o destino dos dinos no ato final.
Reino Ameaçado decepciona tanto que torna Jurassic World melhor do que realmente é. Um filme sobre “desextinção”, ganância e dilemas universais – conseguimos coabitar a Terra com os dinossauros ou devemos exterminá-los em nome da sobrevivência? – incapaz de articular ideias ou até mesmo divertir.
Avaliação: Ruim