Crítica: em Aniquilação, Netflix cria sci-fi filosófico sobre a vida
Longa de Alex Garland protagonizado por Natalie Portman acompanha bióloga em missão a ambiente contaminado por misterioso fenômeno
atualizado
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Aniquilação, filme da Netflix estrelado por Natalie Portman que estreia em 12 de março na plataforma, funciona como ambiciosa ficção científica sobre nossa percepção da vida. Parece profundo demais para apenas um par de horas, certo? Mas é a proposta de Alex Garland, conhecido por Ex Machina (2014), seu primeiro longa como diretor – outro sci-fi deveras filosófico.
A bióloga Lena (Portman), ex-militar do exército, aventura-se em uma expedição só de mulheres pelo interior da Área X, um fenômeno aparentemente alienígena, “não natural”, que se espalha pelo litoral dos Estados Unidos. Ela topa participar após mais uma missão fracassada. Apenas um soldado voltou vivo – após um ano desaparecido. Justamente Kane (Oscar Isaac), seu marido.
Habilidoso roteirista – Garland escreveu bons sci-fis como Sunshine: Alerta Solar (2007) e Dredd: O Juiz do Apocalipse (2012) –, o cineasta inglês divide o filme em três eixos. No principal deles, acompanhamos Lena, a doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), líder das investigações sobre a Área X, Anya (Gina Rodriguez), Josie (Tessa Thompson) e Cass (Tuva Novotny) embrenhando-se no perímetro da infestação.
Em outro, vemos Lena sendo interrogada por cientistas e pesquisadores em trajes de segurança. Sabemos, portanto, que ela deve ser a única que retornou da costa. No terceiro e último eixo, o mais curto de todos, flashes do relacionamento da bióloga com Kane mostram um casal entre breves momentos de felicidade e desavenças mal resolvidas.
O que interessa mesmo é o que acontece durante a missão. Aos poucos, o quinteto se vê afetado pelas mutações que impactam a vida natural. Flores se misturam num mesmo ramo. Um crocodilo e um urso visivelmente estranhos atacam o grupo.
Mas há algo ali ainda mais insidioso do que um simples evento extraterrestre. Uma das especialidades de Lena envolve o estudo de células e suas progressões genéticas. Mata adentro, elas encontram exemplares de vegetação que se erguem do solo imitando formas humanas.
Em vez de trafegar por questões morais, algo que tornou Ex Machina (2014) um tanto limitado em suas discussões, Garland prefere debater os limites da criação. Esse fenômeno quer nos destruir ou se juntar a nós? Seremos eliminados ou ganharemos a chance de um novo processo evolutivo?
As tensões filosóficas que seguram a trama infelizmente dão lugar a bestas soluções visuais (psicodélicas e coloridíssimas, para evidenciar as possíveis tintas vibrantes de um encontro místico) e atalhos de roteiro (tudo se resolve com uma granada, a referência ao mito de Adão e Eva) no terço final. O que parecia complexo e denso subitamente se torna e precário e reciclado.
Mesmo com deslizes, a Netflix melhorou (e muito) na comparação com outras produções recentes de ficção científica, como Mudo e Cloverfield Paradox. Aniquilação é Fonte da Vida (2006) que quase deu certo.
Avaliação: Regular