Crítica: Dunkirk, novo Nolan, vê a guerra como experiência sensorial
Longa baseado em fatos insere o espectador na Operação Dínamo, que resgatou milhares de soldados na Segunda Guerra Mundial
atualizado
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Filmar a evacuação de mais de 300 mil soldados resgatados na Operação Dínamo, um dos muitos eventos dramáticos da Segunda Guerra Mundial, parece ser o projeto ideal para o sempre ambicioso diretor Christopher Nolan. “Dunkirk” visualiza o conflito por terra, mar e ar.
Tratado como um cineasta de filmes autorais em Hollywood – parte da crítica adora compará-lo a Stanley Kubrick, os fãs chamam todo novo longa dele de obra-prima –, Nolan inseriu Batman em uma Gotham realista e policialesca (trilogia 2005-2008-2012), tentou entender os limites do sonhos (“A Origem”) e desbravou fendas no tempo e buracos negros (“Interestelar”).
No primeiro filme bélico da carreira, Nolan quer colocar o público no centro da ação. Para tal, “Dunkirk” vai e volta na linha do tempo – fim de maio, início de junho de 1940 – e divide a trama em três dimensões.O conflito por múltiplos olhares
Nas areias da praia de Dunquerque, norte da França, os soldados Tommy (Fionn Whitehead) e Alex (Harry Styles), bem como multidões de recrutas, oficiais e comandantes, tentam vislumbrar chances de serem resgatados.
No mar, o senhor Dawson (o sempre ótimo Mark Rylance) navega pelas águas entre destroços, embarcações sob bombardeio aéreo e náufragos fardados. Farrier (Tom Hardy) corta os céus em um avião de caça solitário e faz o que pode para evitar que esquadrões nazistas incendeiem Dunquerque.
A guerra segundo Nolan é filtrada pela vontade do diretor de mostrar o conflito de um ponto de vista coletivo, tão distanciado quanto pessoal.
Enquanto ruídos afligem as tropas – sobrevoos de caças, milhares de tiros disparados, explosões por toda parte –, o filme trata cada personagem como um potencial sobrevivente. “Dunkirk” capricha na recriação visual e sonora do milagre de Dunquerque, mas perde força a cada troca de subtrama.
Quando a guerra vira passeio
É como se Nolan quisesse enriquecer seu diário de guerra por meio da multiplicidade de relatos. Mas essa escolha, a serviço de um apuro plenamente estético, torna o filme totalizante, em que a exposição de histórias enfraquece o impacto dramático de cada personagem.
Também não ajuda a insistência de Nolan em repetir os tiques de sempre. O diretor associa imersão a uma trilha sonora reiterativa – a música de Hans Zimmer é tão ruidosa quanto a própria guerra – e passeia pelo conflito com um lirismo grandiloquente que não parece combinar com o desespero dos soldados.
O grande problema de “Dunkirk” é confundir reflexão poética sobre a guerra com a promoção de uma experiência sensorial para o público. Daria talvez um bom jogo de videogame. No cinema, soa apenas extenuante.
Avaliação: Regular
Veja horários e salas de “Dunkirk”