Crítica: documentário sobre Pelé mostra política na vida do craque
No filme da Netflix, além dos lances geniais do jogador, sua relação com a ditadura militar é colocada em destaque
atualizado
Compartilhar notícia
Uma das várias frases eternizadas por Chaves em suas exibições no Brasil, o personagem de Roberto Bolaños, para mostrar descontentamento com um longa, dispara: “Era melhor ter ido ver o filme do Pelé”. Parece loucura, mas quase 40 anos depois, a sentença do humorista soa como verdade, com a estreia do documentário Pelé, na Netflix.
O longa, dirigido por David Tryhorn e Ben Nicholas, estreou nesta quarta-feira (23/2) na Netflix. Pelé conta a história do maior jogador de futebol de todos os tempos – ao menos, assim, o projeto se vende.
Na verdade, o documentário narra a vida de jogador de Pelé, deixando de lado vários aspectos de sua trajetória após deixar o campo. Não fala de sua passagem pelo Ministério dos Esportes, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, ou mesmo das questões empresariais e pessoais envolvendo o craque.
Porém, Pelé não é um produto chapa-branca. Os documentaristas, por exemplo, tocam em aspectos pouco conhecidos do jogador: como a sua relação com a ditadura militar.
Pelé surgiu para o futebol em 1958, consagrando-se campeão do mundo. Em seguida, faturou (mesmo que lesionado) a Copa de 1962. Dois anos depois, o Brasil sofreu um golpe militar, que durou por 21 anos.
Foi, durante o governo militar, que Pelé disputou a Copa de 1970, aquela em que brilhou intensamente. Neste período, além do futebol, a política fervia no país, com repressão brutal e endurecimento do regime. No filme, o craque é obrigado a responder, entre outras questões, por que aceitava constantemente estar próximo dos poderosos da época.
Neste contexto, o depoimento de Paulo Cézar Lima, companheiro de Pelé na seleção e ex-craque é incrível: “Sempre estive do lado oposto a ele na política, mas queria estar com ele no campo”.
Futebol
E é isso. Política à parte, Pelé também é um produto para apaixonados por futebol. Reviver os lances incríveis do craque, sua trajetória no Santos e o milésimo gol é um presente – mesmo que nada seja, exatamente, inédito.
É bacana ouvir Zagallo falando sobre o tricampeonato, escutar de Jairzinho como foi jogar com Pelé. Isso sem falar de uma das cenas mais emocionantes, na qual os jogadores do Santos se reúnem com o craque para relembrarem o supertime da Vila Belmiro.
Pelé, que no filme já mostra sinais de uma saúde fragilizada, tem no documentário uma oportunidade de ser confrontado com suas escolhas políticas do passado, ao mesmo tempo em que é homenageado como o grande ídolo e jogador que foi.
Avaliação: Bom