Crítica: Como Treinar Seu Dragão 3 encerra série com devida maturidade
A conclusão da saga traz a conclusão muito sábia – sobretudo para o público jovem – de que nada nessa vida é definitivo
atualizado
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A adolescência é marcada por grandes amizades – e a noção, por vezes errada, de que essas relações vão durar para sempre. Ou, ao menos, terão a mesma dinâmica por mais algumas décadas. A compreensão de que esta premissa é falsa é o mote de Como Treinar Seu Dragão 3, um filme que mostra a amizade dos inseparáveis Soluço e Banguela sofrendo a ação implacável do tempo.
A decisão corajosa de, no filme anterior, avançar cinco anos na história do original só poderia dar nisso: acompanhar o crescimento do rapaz e seu dragão culminaria, eventualmente, no fim. A condução desta premissa é o grande trunfo do longa. Ao passo em que Banguela se apaixona perdidamente por Fúria da Luz, uma fêmea de sua espécie, a relação de Soluço e com a namorada Astrid amadurece e se desenvolve.
Astrid esteve sempre ali: desde o primeiro filme, a garota fica ao lado de Soluço e suas ideias malucas. Na conclusão da saga, no entanto, a personagem ganha uma importância na vida do protagonista que antes apenas Banguela tinha. A moça e seu dragão, Tempestade, têm papel fundamental no desenvolvimento da história, e fazem a descoberta que culmina na conclusão do filme.
Não é um caso, no entanto, de uma representação grotesca da mulher que afasta o namorado dos amigos. Nem Astrid, nem Fúria da Luz se prestam a este papel. Diante da insistência dos compatriotas para se casarem, Soluço desconversa e a namorada, sabiamente, aponta: nenhum dos dois tem maturidade para a decisão naquele momento.
Fúria da Luz, por sua vez, entra em cena e logo ganha a simpatia e o respaldo do público em um belíssimo momento em que ela e Banguela finalmente se entendem. Em uma sequência muito parecida com a que Soluço e seu dragão se conhecem, o novo casal se forma e a mensagem é muito clara: Banguela encontrou outro ser para confiar e compartilhar a vida. As expressões dos dragões, uma mistura adorável de reações típicas caninas e felinas, fazem com que qualquer espectador com um bicho de estimação o esperando em casa se derreta.
Se as relações entre os cidadãos de Berg e seus dragões fazem valer o longa, seu vilão deixa a desejar. Grimmel é uma versão refinada de Drago, o malvado do filme anterior, com métodos mais sutis, mas igualmente violentos. O conflito não é tão diferente do capítulo que o precede, e até por isso, o que se sobressai na história é o caminho que a amizade de Soluço e Banguela toma, em vez da aventura em si.
Com um visual deslumbrante e uma atenção louvável ao detalhe – atente para as armaduras de Soluço e sua turma –, o filme é a conclusão corajosa de uma saga que poderia ter se arrastado muito mais… e virado uma franquia insossa caça-níqueis. Bravo.
Avaliação: Ótimo