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Crítica: Clube dos Canibais satiriza elite brasileira com gore e humor

Novo longa de Guto Parente cria curiosa conexão com Bacurau ao mostrar classe trabalhadora literalmente sendo devorada pelos patrões

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O Clube dos Canibais não tem lá muito tempo para enrolação. A começar pelo título: algo que remete a grupinho seleto, exclusivo de consumidores de carne humana. Ricos, obviamente. Em 81 minutos, o diretor cearense Guto Parente (Inferninho, A Misteriosa Morte de Pérola) consegue forjar uma potente sátira sobre elite brasileira, classe trabalhadora e, claro, a dinâmica de classes desnivelada que separa as castas.

O veículo escolhido por Parente para transmitir recado ora raivoso, ora bem-humorado sobre o país da desigualdade é o terror. Em especial, o gore. Espere, portanto, farta sanguinolência, mutilações e explosões de violência, não sem um tantinho considerável de crítica social aliada a um certeiro olhar cômico.

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“Eu precisava me expressar quanto ao que sinto. Uma elite que alimenta a desigualdade social sem nenhuma dor na consciência e que tem se tornado cada vez mais descarada em seus gestos de exclusão, opressão e desprezo pelos pobres. Nem fingir humanidade eles fingem mais”, disse o diretor Guto Parente, em entrevista ao <b>Metrópoles</b>
Pôster de O Clube dos Canibais
Gilda: tardes à beira da piscina vigiando funcionários (e futuras presas)
Borges, o político que lidera o clube: segredo descoberto pelo casal
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Otavio e Gilda: casal sanguinário

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“Eu precisava me expressar quanto ao que sinto. Uma elite que alimenta a desigualdade social sem nenhuma dor na consciência e que tem se tornado cada vez mais descarada em seus gestos de exclusão, opressão e desprezo pelos pobres. Nem fingir humanidade eles fingem mais”, disse o diretor Guto Parente, em entrevista ao Metrópoles

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Pôster de O Clube dos Canibais

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Gilda: tardes à beira da piscina vigiando funcionários (e futuras presas)

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Borges, o político que lidera o clube: segredo descoberto pelo casal

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À beira da praia – de Guajiru (Ceará), onde o longa foi em parte rodado –, o casal Otavio (Tavinho Teixeira) e Gilda (Ana Luiza Rios) vive uma opulência de escala paradisíaca. O homem é empresário, dono de uma firma de segurança particular, tem escolta à porta da mansão. A mulher beberica drinques, mergulha na piscina e, vez ou outra, conhece intimamente os funcionários da casa.

Não se engane. Há uma razão nada clichê para isso. É uma mera forma de “experimentar” o trabalhador da vez, já que a rotatividade impera, antes de ele ser propriamente devorado em banquetes. Ali mesmo ou em reuniões do clube que dá título ao filme, composto por figurões políticos e empreendedores da região – todos homens.

Em tempos de desemprego, crise econômica – na qual as classes altas enxergam baitas oportunidades – e flexibilização de direitos trabalhistas, só falta isto mesmo: rico literalmente se alimentar de pobre.

Violência de classes

A escolha de Parente por uma narrativa direta, sem rodeios, empresta ao filme uma velocidade digna de história pulp à la Eli Roth (O Albergue, Bata Antes de Entrar). O Clube dos Canibais surge como raro longa brasileiro que consegue trafegar entre cinema de arte e de gênero sem digressões visuais impostadas ou discursos “iluminados”.

Eis a reviravolta autofágica. Gilda descobre um segredinho antes mui bem guardado de Borges (Pedro Domingues), poderoso político de Fortaleza. Agora, ela e Otavio correm perigo. Para completar o festival de twists afiados que se anuncia, o mais novo funcionário da mansão, Jonas (Zé Maria), parece mais esperto do que seus antecessores.

Talvez a melhor maneira de explicar as complexidades de um país como o Brasil seja com a franqueza de O Clube dos Canibais, um filme cujos desdobramentos finais lembram simbolicamente os de Bacurau, outra fábula contemporânea deveras violenta e pulsante.

Não se trata de vingança ou revanche dos excluídos em embalagem pop, mas sim de expurgo terapêutico (e divertidíssimo).

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