Crítica: Cine Holliúdy 2 ressignifica o retirante em bom cearensês
Francisgleydisson e sua turma de cabras cinéfilos estão de volta num sci-fi divertido e orgulhoso de ser nordestino
atualizado
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No Ceará, ufologia é coisa séria: o município de Quixadá, a sudoeste da capital Fortaleza, é famoso pelas constantes visões de objetos voadores não identificados. Nada mais natural que esses seres de outro planeta aterrissem na pequenina Pacatuba, cidade retratada no novo filme do cearense Halder Gomes, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral.
A continuação do sucesso consegue ser ainda melhor que o filme original, lançado em 2012. Se o primeiro conta a triste história do fim das salas de cinema no estado nordestino, o segundo mostra como a cultura transforma uma população inteira. Mesmo com o fechamento do cineminha que dá título ao filme, o povo de Pacatuba foi mordido pelo bichinho da sétima arte e, liderados por Francisgleydisson (Edmilson Filho), decidem fazer um filme sobre a batalha de Lampião contra os marcianos.
Cinco anos depois dos eventos de Cine Holliúdy, a saga de Francisgleydisson se concentra na recusa do cearense em deixar seu lar e suas paixões para se tornar um retirante. Diante da ruína financeira, o projecionista se reinventa e se torna um diretor mambembe, que realiza um filme para suprir a necessidade daquela população de assistir às histórias fantásticas do cinema. O sucesso do sci-fi nordestino o leva até a Hollywood original: Francis só se retira do Ceará como cineasta em ascensão, a convite de ninguém menos que Steven Spielberg.
Nos aspectos técnicos, o filme evoluiu muito em relação ao anterior: a fotografia valoriza as cores e os contrastes de Pacatuba, enquanto a movimentação de câmeras dá dimensão aos belos cenários. Falado completamente em cearensês, o longa não dispensa as legendas que ajudam a compreensão da história do Oiapoque ao Chuí. O humor da região tem piadas deliciosamente certeiras, se concentrando em detonar os poderosos e em enaltecer o povo sofrido e trabalhador dos interiores do Brasil.
Todo o coração do filme, no entanto, está na relação entre Francis, sua esposa, Graciosa (Miriam Freeland), e o filho deles, Francin (Ariclenes Barroso), agora rapaz e prestes a entrar para a faculdade. Se a comédia é a arte de fazer piada com a tragédia, nada mais justo que emocionar nos momentos da mais simples felicidade. Cine Holliúdy é, sobretudo, um filme sobre família, amizade e comunidade transformadas pela arte. Tem coisa mais bonita, macho?
Avaliação: Ótimo