Crítica: Campo do Medo adapta Stephen King “menor” na Netflix
Diretor de O Cubo (1997), Vincenzo Natali narra trama labiríntica em matagal que aprisiona e atordoa curiosos
atualizado
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Das recentes adaptações de Stephen King para cinema e televisão, o filme Campo do Medo, da Netflix, representa a “menor” delas. Em In the Tall Grass, conto coescrito por Joe Hill e publicado na revista Esquire, a narrativa aprisiona e atordoa uma série de pessoas em um matagal à beira de estrada no Kansas.
O conceito aparentemente simples se encaixa direitinho na verve do diretor Vincenzo Natali, conhecido pelo claustrofóbico O Cubo (1997).
De início, dois irmãos, Becky (Laysla de Oliveira, brasileira radicada no Canadá) e Cal DeMuth (Avery Whitted), viajam rumo a San Diego. A jovem está grávida e relutante quanto ao futuro do bebê, de seis meses de gestação. Ela passa mal e Cal para ladeando um vasto campo de mato alto.
Eles escutam o pedido de socorro de uma criança, Tobin (Will Buie Jr.), e decidem entrar na mata para ajudá-la. Começa, assim, uma narrativa espiralada em que as noções de tempo e espaço dos personagens são completamente destroçadas pelo ambiente calorento e sem saída.
O vai e vem da história permite a entrada de personagens diversos em diferentes pontos da trama: os pais de Tobin, Natalie (Rachel Wilson) e Ross (Patrick Wilson, da franquia Invocação do Mal), e Travis (Harrison Gilbertson), pai do filho de Becky.
Ross é o único dos perdidos que entrou em contato com a rocha preta fixada no meio do matagal. A força sobrenatural do lugar parece ter raízes dessa pedra e transforma o pai de família em um psicótico dado a rompantes assassinos.
Natali concentra esforços na ambientação labiríntica, criando intensidade em espaços fechados e nos bizarros encontros entre os jogadores. O loop temporal faz de Ross uma espécie de chefão praticamente imortal: não importa a escolha dos outros personagens; eles sempre caem no caminho do vilão.
Esse espírito brincante, despreocupado faz bem ao filme, mas não o exime de certos deslizes decisivos. As fartas cenas de alucinação, por exemplo, soam atrativas visualmente, mas jamais se conectam à história de forma produtiva.
No fim das contas, Campo do Medo não merece figurar nem entre os melhores ou piores filmes inspirados em King. Pelo menos sai ganhando na comparação com adaptações recentes esquecíveis, como Cemitério Maldito (2019), A Torre Negra (2017) e Celular (2016).
Avaliação: Regular