Crítica: “Cães de Guerra” usa farra para criticar a cultura pró-armas
Nova comédia do diretor da trilogia “Se Beber, Não Case!” narra a história real de dois jovens que negociaram armas com o governo dos Estados Unidos
atualizado
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O diretor Todd Phillips construiu sua trajetória na década de 2000 entre festas de fraternidade universitária e ressacas monumentais. A consagração comercial (e, em parte, crítica) veio com a trilogia “Se Beber, Não Case!”, que se tornou uma espécie de modelo a ser seguido em Hollywood. Desta vez, a farra juvenil ganha contornos um tanto clandestinos. “Cães de Guerra” narra a saga improvável de dois caras que se metem a negociantes de armas com o exército americano.
Baseado em fatos, o projeto mostra um Phillips tentando arranhar temas sérios, como a lucrativa indústria por trás das guerras, dentro da sua já costumeira verve de ilustrar homens que se comportam como meninos travessos.
Nesse sentido, a escalação de elenco é certeira: Jonah Hill interpreta Efraim Diveroli, a “mente pensante da dupla”, e Miles Teller vive David Packouz, seu melhor amigo. Infelizmente, os acertos param por aí.
Potencial cômico mal explorado
Phillips pela primeira vez na carreira almeja de fato esboçar uma comédia subversiva, desenhando um mini-painel sobre os Estados Unidos em tempos de Guerra do Afeganistão. Como foi possível, na metade dos anos 2000, dois jovens anônimos emplacarem um contrato milionário com o Pentágono? A farra, aqui, não é regada a bebedeira e drogas, mas a licitações fáceis e telefonemas efusivos.
Phillips recusa o fator ostentação à la “Scarface” dos personagens e enfatiza uma crítica à administração Bush e à cultura pró-armas dos americanos. Os elementos de uma comédia ácida e inteligente estão todos lado a lado, mas diluídos numa narrativa que usa recursos clássicos – voz em off, tela congelada, câmera lenta – de maneira preguiçosa para levar a história adiante.
“Cães de Guerra” aparenta ter um potencial cômico desperdiçado. Fica difícil não se entregar à tentação de pensar quão melhor seria esse projeto nas mãos de diretores como Adam McKay (“A Grande Aposta”) e os irmãos Farrelly (“Quem Vai Ficar com Mary?”).
Avaliação: Regular
Veja horários e salas de “Cães de Guerra”.