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Crítica: “Blade Runner 2049” é reciclagem em vez de novidade

A trama mitológica, com fotografia, trilha sonora e design excelentes, deixa pra trás as ambições filosóficas da sequência

atualizado

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Blade Runner
1 de 1 Blade Runner - Foto: Divulgação

“Blade Runner 2049” é um prato cheio. Ame-o ou deixe-o, o original é um dos filmes mais influentes do gênero de ficção científica. Por isso mesmo, o novo longa já causou indignação, admiração e reflexão antes mesmo de ser exibido. Com 35 anos entre um e outro, o projeto da sequência sempre foi ambicioso e teve cuidado ao selecionar um elenco eclético e de primeira com um diretor admirado pela crítica e pelo público, o canadense Denis Villeneuve.

Blade runners são caçadores de androides, robôs que se parecem com seres humanos de carne e osso. No primeiro filme, a presença deles no planeta Terra era ilegal, pois essas máquinas foram criadas unicamente como mão de obra escrava na colonização de novos planetas, fora do sistema solar. Caso algum androide rebelde pousasse na Terra, os blade runners eram ativados. Em 2049, a ameaça dos robôs se desfez, pois o inventor Niander Wallace inventou uma raça completamente pacata que agora se espalhou na Terra e em outros nove planetas.

O agente K (Ryan Gosling) é um blade runner, e quando o filme começa ele está à procura de um dos androides modelo antigo, Sapper Morton (Dave Bautista). Apesar do primeiro filme estabelecer que esse tipo de robô viveria no máximo quatro anos (e a importância toda do filme, e do seu clímax, dependerem disso), o texto introdutório de “2049” sabota essa ideia ao revelar que androides randômicos tinham datas de expiração ilimitadas. Sapper Morton é um destes, e K consegue eliminá-lo. Mas aí uma busca do local revela um esqueleto enterrado, e é esse mistério que move o resto da trama.

Como em todo grande mistério, essa pequena pista desencadeia uma série de revelações que levam a um grande acontecimento. Nestes termos, “Blade Runner 2049” é um bom filme, quase que um filme procedural antigo, onde vemos, pista por pista, todos os momentos investigativos que levam ao final. Tudo é resultado do que acontece no primeiro longa, e por isso a experiência de espectador é melhorada se ele assistiu ao antecessor.

Enquanto o primeiro “Blade Runner” era mais uma exploração filosófica numa alegoria distópica que precisava de uma trama pra chegar de um ponto A a um ponto B, “2049” é uma trama milimetricamente calibrada que usa questões filosóficas para rechear as beiradas. Isto é estranho num filme de Villeneuve, que ano passado lançou “A Chegada”, longa de ficção científica intensamente filosófico.

Ao deslocar as ambições filosóficas para segundo plano, “Blade Runner 2049” não explora ideias novas, ele meramente revisita as questões exploradas 35 anos atrás. São as mesmas: o uso de inteligência artificial como força escrava, o desenvolvimento de emoções e relacionamentos entre humanos e androides e, finalmente, a humanidade que existe em robôs e a falta dela nas pessoas. Além disso, a destruição ecológica do planeta e o medo de humanos serem dominados pela sua criação. Em uma das inúmeras referências bíblicas neste novo filme, que mesmo nisso copia o primeiro, alguém diz: “O número de série pródigo retorna”.

Fotografado pelo lendário Roger Deakins, “2049” é lindo de se ver. A trilha sonora, perfeita. Com duas horas e 40 minutos de duração, os personagens são bem estabelecidos e interessantes. Exceto pela figura do “vilão”. Estes não são em nada memoráveis e facilmente substituíveis, em detrimento à figura icônica de Roy Batty, esquecido como lágrimas na chuva (desculpe, não resisti).

“Blade Runner 2049” é, de certa forma, um fanfic do primeiro filme. Tudo está ligado a ele, e a mitologia desenvolvida aqui, em especial o retorno de Harrison Ford, já revelado em todos os trailers e propagandas do filme, pode desencadear um sem-número de sequências. A chave do mistério deste filme, que é justamente seu único tema novo, fica pro final. Apenas um terceiro longa poderia explorar suas possibilidades. O que ocorre aqui é a bem executada criação de uma franquia, em vez de algo novo.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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