Crítica: Bad Boys Para Sempre dá update em policiais do passado
Com distância de 17 anos para o segundo filme, longa traz detetives vividos por Will Smith e Martin Lawrence encarando novos crimes e crises
atualizado
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Está na cara que Bad Boys Para Sempre pretende, entre outras coisas, renovar os policiais clássicos de Will Smith e Martin Lawrence e criar pontes para sequências. Os créditos finais deixam essa intenção às claras, caso o espectador não tenha se tocado que deverá ver Mike Lowrey (Smith) e Marcus Burnett (Lawrence) mais algumas vezes nos próximos anos.
Na era das franquias, até esses detetives e “assassinos do bem”, há duas décadas protegendo Miami de bandidões de toda sorte, conseguem cavar seu espacinho. Mas o retorno, como vem pedindo o cinema contemporâneo, exige ajustes.
A trama, por sinal deveras batida, envolve uma onda de violência instalada em Miami. E parece bem importar bem menos do que a caracterização dos personagens principais e os conflitos geracionais – falaremos disso daqui a pouco.
Os alvos dos disparos: autoridades da segurança pública, todas elas envolvidas, anos atrás, na morte de um figurão do narcotráfico mexicano. Quando a viúva dele, Isabel Aretas (Kate del Castillo), foge da prisão, o plano de vingança começa a se desenrolar. Seu filho único, Armando (Jacob Scipio), é despachado para realizar as execuções.
O último corpo a tombar, ela arquiteta, é o de Lowrey. Só saberemos detalhes dessa vendetta na reta final do filme, num daqueles diálogos conta-tudo surgidos do nada.
Pois bem. Desconhecidos do público ocidental, os cineastas belgas Adil El Arbi e Bilall Fallah entregam o que se espera de uma trama que dá continuidade a duas produções de Michael Bay, então um egresso da publicidade e do videoclipe quando dirigiu Bad Boys (1995): tiroteios faiscantes, explosões generosas, Lowrey e Burnett fitando o horizonte sob o sol de Miami, carrões disparando à toda em largas avenidas. Ação genérica e algo eficiente, mas aquém da extravagância nauseante e deslumbrante de Bay.
Superfície filme-de-ação-anos-1990 à parte, Bad Boys Para Sempre tenta reformatar esses velhos detetives. Lowrey acha que vai atazanar a bandidagem pelo menos até completar 100 anos, enquanto Burnett não vê a hora de se aposentar – acaba de virar avô. Mas o complexo mundo de hoje pede mais do que bravura.
Até por isso, Lowrey e Burnett não agem sozinhos. Uma divisão foi criada especialmente para articular métodos modernos de inteligência, tecnologia de ponta e armas não letais em investigações. No comando dela, Rita (Paola Nuñez). Na equipe, policiais, digamos, millennials e destemidos, como Kelly (Vanessa Hudgens).
As diferenças entre gerações exercem papel central, ainda que sutil, na dinâmica de buddy cop tão cara à franquia.
Isso inegavelmente cobra um preço, sobretudo quando o filme soa despreocupado e se abriga no conforto quentinho da nostalgia: Lawrence revisitando as caretas de sempre, os updates constantes na música-tema. Até os esboços de autoparódia – a cena de abertura, por exemplo – rapidamente se revelam atalhos para a autohomenagem.
Bad Boys Para Sempre exibe mais simpatia do que a média das sequências tardias. Ao mesmo tempo, parece negociar em excesso e sem chegar a um resultado satisfatório nessa transação narrativa entre recauchutar ídolos e trabalhar a estranheza de heróis do passado diante do presente.