Crítica: “Atômica” quer reler “John Wick”, mas revela trama ingênua
Charlize Theron interpreta uma agente britânica envolvida em jogo de espionagem e traições no fim da Guerra Fria
atualizado
Compartilhar notícia
“Atômica” visita os dias que antecedem a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. Sobram ruas ocupadas por manifestantes, becos mal iluminados, hotéis e casas noturnas preenchidas por luzes neon.
Nesse clima de turbulência política e insatisfação social, a agente secreta Lorraine Broughton (Charlize Theron) é enviada à capital alemã pelo MI6, o serviço de inteligência britânico, para investigar 1) a morte de um colega e 2) o vazamento de uma lista que pode comprometer a identidade de fontes e espiões aliados na Europa.
“Atômica” vem sendo vendido como versão feminina de “John Wick”, e não por acaso. David Leitch, escalado para comandar “Deadpool 2”, codirigiu o primeiro filme com Chad Stahelski – o segundo, “Um Novo Dia para Matar”, é ainda melhor. Ambos acumulam anos de experiência com dublês e coreografias de luta em filmes de ação.
Apesar da inegável habilidade de Charlize – o confronto com policiais em que uma mangueira vira arma, o clímax em plano-sequência que mostra Lorraine cansada de tanto bater nos inimigos –, falta a “Atômica” a sofisticação cinematográfica dos dois “John Wick”.
Estilo ou grife?
A trama, tão confusa quanto ingênua, se baseia no depoimento de Lorraine prestado a um representante do MI6 (Toby Jones) e um chefão da CIA (John Goodman). E claro, como agente esperta que é, ela escolhe o que e quando revelar certas informações.
Se a ideia era misturar o apuro coreográfico de “John Wick” com a vibe dos Eurothrillers – impossível não citar “Nikita” (1990) –, “Atômica” merecia no mínimo um roteiro mais bem acabado e menos dependente de música pop (David Bowie, Public Enemy, The Clash, Queen) para dinamizar o ritmo capenga da história.
Os personagens de Sofia Boutella (vista no novo “A Múmia”) e James McAvoy (“Fragmentado”) também parecem subaproveitados em uma trama condicionada a reviravoltas e revelações bombásticas a cada dez minutos. Charlize Theron eleva o filme nas cenas de ação, mas não tem muito o que fazer quando os diálogos bobos insistem em truncar a narrativa.
Ao contrário de “John Wick”, franquia que consegue combinar extravagância visual e fábula envolvente (um mundo habitado por assassinos profissionais), “Atômica” é refém da necessidade, e não do prazer, de parecer um filme estiloso.
Avaliação: Regular