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Crítica: “Arábia” segue trabalhador braçal em crônica sobre trabalho

Longa mineiro e curta paulistano encerraram a mostra competitiva neste sábado (23/9), no 50º Festival de Brasília

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1 de 1 arábia_joão-dumans-e-affonso-uchoa_vasto-mundo-e-katasia-filmes-11 - Foto: Vasto Mundo/Katasia Filmes/Divulgação

Criações de diretores jovens encerraram a mostra competitiva do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro na noite de ontem, sábado (23/9). A cineasta Juliana Rojas não pôde comparecer a apresentação do filme “A Passagem do Cometa”, mas enviou um recado lido por membros da equipe 100% formada por atrizes e técnicas mulheres.

O curta-metragem paulistano é uma produção de época e se passa nos anos 1980 durante a passagem do cometa Halley. Já o mineiro “Arábia”, dirigido pela dupla de diretores Affonso Uchoa e João Dumans, é um road movie que registra trechos da vida de um trabalhador braçal.

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Arábia, João Dumans e Affonso Uchoa
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Arábia, de João Dumans e Affonso Uchoa

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Arábia, João Dumans e Affonso Uchoa

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“Arábia”
Há algo muito incômodo na correspondência epistolar de “Arábia” e que toma boa parte da narrativa do longa-metragem de Minas Gerais. Talvez o sentimento de que o desfecho trágico do operário Cristiano (Aristides Sousa) não pode ser modificado. O presente é o passado narrativo e todas as ações se desenrolam quando já sabemos que Cristiano padece em um hospital por conta de um mal súbito.

Inerte numa cama de enfermaria, Cristiano se comunica conosco por meio de um diário encontrado pelo adolescente, com muitas responsabilidades, André (Murilo Caliari). E o que ele nos conta revela um mundo subterrâneo dos seres quase sempre invisíveis do trabalho precarizado, mesclados aos desejos e sentimentos de um homem simples da classe trabalhadora.

O mecanicismo do mundo de atividades repetitivas é capaz de sufocar qualquer expectativa do protagonista. Até o relacionamento com uma mulher Ana (Renata Cabral), a funcionária de uma fábrica, é mediado pelo mundo do trabalho. Mais uma fonte de frustração que de contentamento o relacionamento romântico entre os dois não é capaz de aplacar a solidão de um órfão vagando pelas cidades do interior de Minas Gerais.

A direção compartilhada entre João Dumans e Affonso Uchoa extrai belíssimas sequências de um road movie embalado por trilha sonora folk e country. Apesar de a subjetividade de Cristiano (seus medos, dores e afetos) serem apresentados na tela, a rigidez formal da película cria uma espécie de distância entre protagonista e espectador.

Avaliação: Bom

Alice Andrade Drummond/Divulgação

“A Passagem do Cometa”
“A Passagem do Cometa”, ao lado do curta-metragem paranaense, “Tentei” (Laís Melo), são dois dos títulos feministas que apresentaram o ponto de vista das mulheres dentro da competitiva do Festival de Brasília deste ano. Se as vozes das mulheres têm sido silenciadas nas decisões políticas do Congresso Nacional, pelo menos no cinema elas têm tido reverberação levadas principalmente pelas mãos de cineastas mulheres.

A questão do aborto na película de Juliana Rojas é tratada de forma direta: as mulheres do filme estão reunidas em uma clínica clandestina na cidade de São Paulo para realizar um procedimento abortivo.

Ambientada nos anos 1980, a película apresenta a questão desde um ponto de vista pontual e tem uma execução matematicamente calculada.  Exceto num momento de extravazavamente representado na sequência do videoclipe musical pela execução da canção “Falta Alguma Coisa” na interpretação do Grupo Rumo. Somente aí, se estabelece alguma relação com a subjetividade das personagens.

O excesso de cálculo está também nas atuações das atrizes Ivy Souza, Mariza Junqueira, Nana Yazbek, Helena Albergaria e Gilda Nomacce, sendo as duas últimas antigas parceiras de Rojas em trabalhos anteriores.

“A Passagem do Cometa” está longe de ser um libelo cinematográfico. Mas, ao tratar a questão da autonomia dos corpos femininos sem amarras, este título curto pode apontar um caminho para uma abordagem franca da questão de saúde pública das mulheres.

Avaliação: Bom

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