Crítica: Aquaman aposta na extravagância para sacudir universo DC
Filme estrelado por Jason Momoa e dirigido por James Wan traz história de origem de um jovem que reluta em assumir o trono de Atlântida
atualizado
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Aquaman, o filme, tenta levar o universo de deuses e reis da DC Comics a uma nova etapa nesta temporada de férias. Jason Momoa, tão musculoso quanto carismático, encarna Arthur Curry, filho de um faroleiro (Temuera Morrison) com a rainha de Atlântida, Atlanna (Nicole Kidman).
Sua origem metade humana, metade atlante o coloca numa posição inédita, mas desafiadora: ser o elo entre terra e mar – ou pivô de crises palacianas e guerras entre nações. Orm (Patrick Wilson), seu meio-irmão e atual rei, pretende evitar todo tipo de aliança e almeja unir as tribos dos sete mares para exercer supremacia no planeta, abaixo e acima da superfície.
James Wan, diretor escolhido para dirigir a aventura, construiu carreira dedicada ao terror. Fundou franquias bem-sucedidas do gênero (Jogos Mortais, Sobrenatural e Invocação do Mal, que ganhou derivados com Annabelle e A Freira) trabalhando com baixos orçamentos e deu muito dinheiro aos estúdios Universal com o blockbuster Velozes e Furiosos 7 (2015).
Em Aquaman, Wan investe nas possibilidades da fantasia para explorar um mundo mitológico nunca visualizado nos cinemas – o personagem fez uma ponta em Batman vs Superman (2016) e se juntou aos colegas de firma da DC em Liga da Justiça (2017).
As extravagâncias inundam a história com figurinos coloridos, disputas palacianas, criaturas algo mágicas, amores difíceis e diálogos sem medo da breguice – “o que poderia ser maior do que um rei?”; “um herói”.
Essa saga épica além-mar transporta Curry e Mera (Amber Heard), destemida jovem que desafia o pai, Nereus (Dolph Lundgren), em defesa do amigo renegado, para o deserto da Saara e a ensolarada Sicília à procura do tridente de Atlan, artefato mágico do primeiro rei de Atlântida.
Toda essa fabricação de mundos assume um tom kitsch desde as primeiras cenas, da infância de Curry ao período de doutrinação sob os cuidados de Nuidis Vulko (Willem Dafoe), conselheiro do reino. Assim que Aquaman decide lutar pelo destino que o espera, o filme ganha contornos aventurescos cada vez mais exagerados e pomposos.
Essa ousadia rende erros e acertos no decorrer das quase duas horas e meia de duração. O miolo do filme sofre para engrenar, sobretudo durante o processo de autodescoberta de Curry e sua relutância em encarar responsabilidades – ele se refugia na autoimagem de garotão marrento que jamais rejeita um chope.
Wan não é exatamente um diretor de ação, e isso ficou bastante claro no apenas digno Velozes 7. Mas seu novo longa tem cota razoável de sequências eficientes: a travessia de Mera e Arthur pelo temido Reino do Fosso, habitado por seres das profundezas do oceano, e ágeis coreografias de câmera e efeitos visuais para mostrar simultaneamente a fuga de Mera pelos telhados da Sicília e o embate entre Curry e Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), aliado de Orm e pirata cujo pai foi morto pelo herói.
Aquaman fica, ao lado de Mulher-Maravilha, na primeira prateleira do ainda mui irregular DCEU. Ambos os filmes exibem uma proposta narrativa mais sólida e bem acabada do que o ciclo de Zack Snyder (O Homem de Aço, BvS, Liga da Justiça) e o desastroso Esquadrão Suicida (2016). Momoa e Wan parecem indicar um caminho promissor para uma franquia em plena transformação.
Avaliação: Regular