Crítica: Anos 90 retrata melhor e pior da adolescência sem julgamentos
Longa que marca a estreia do ator Jonah Hill na direção acompanha garoto de 13 anos fazendo amigos skatistas no verão de Los Angeles
atualizado
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Anos 90, filme de estreia do ator Jonah Hill na direção, pode parecer, a julgar pelo título, uma crônica carinhosa e nostálgica sobre a década dos videogames Nintendo, discmans e videoclipes da MTV. Pelo contrário.
A partir de roteiro original e próprio, Hill, astro de comédias arruaceiras de toda sorte, de Superbad (2007) e Anjos da Lei (2012 e 2014) a O Lobo de Wall Street (2013), propõe uma narrativa que tenta, de todos os lados, replicar o espírito, a temperatura, a vibe da época.
Nesse sentido, mal há uma história a ser contada, o que faz muito bem a esse olhar olhar microscópico trazido pelo cineasta estreante. Stevie (Sunny Suljic), garotinho de 13 anos, não aguenta mais passar o verão em casa.
A mãe, Dabney (Katherine Waterston, de Animais Fantásticos e Alien: Covenant), trabalha bastante para sustentar o lar. O solitário irmão mais velho, Ian (Lucas Hedges, indicado ao Oscar por Manchester à Beira-Mar), só consegue se expressar por meio da violência. Do pai nada sabemos. Resta a Stevie achar uma família lá fora, nas ruas da ensolarada Los Angeles.
Para um filme de estreia, impressiona o quanto Anos 90 consegue soar autêntico mesmo evocando referências tão claras, óbvias até: Richard Linklater, Larry Clark e Harmony Korine, talvez os três principais porta-vozes cinematográficas da cultura jovem e adolescente nos Estados Unidos, sobretudo na década retratada no filme de Hill.
Stevie é apresentado, de uma só vez, a bebidas, drogas e sexo por meio de uma turma de skatistas sem papas na língua. Há muita curtição, mas também sonhos compartilhados, amizades genuínas e experiências transformadoras.
Todos eles, bem como “Queimadinho”, mais novo integrante da gangue, também vêm de famílias despedaçadas: Ray (Na-kel Smith), o esportista, Porra-Louca (Olan Prenatt), cujos talentos para a farra são autoexplicativos, Ruben (Gio Galicia), até então o caçula da galera, e o Quarta Série (Ryder McLaughlin), sujeito monossilábico e avoado que prefere filmar do que falar.
Hill enquadra tudo no aspecto de tela 4:3, aludindo às TVs de tubo e emoldurando uma trama de fato temporal – afinal, nossas memórias, sejam de ontem ou de qualquer outra década, têm forma, paleta, ritmo e cheiro próprios.
Anos 90 nem tenta esconder o quanto soa, por vezes, derivativo – hanging out à beça no lugar de uma trama redondinha, trilha feita pelos noventistas Trent Reznor e Atticus Ross e pontuada por uma porção de hits da época. Mas a proposta de apresentar uma crônica teen pontiaguda, sem penduricalhos, filtros e julgamentos enterra qualquer pista de lugar-comum.
Crítica: Bom