Crítica: A Odisseia dos Tontos é comédia sobre crise da Argentina
Filme candidato do país ao Oscar 2020 traz Ricardo Darín liderando grupo de trabalhadores contra ricaço que se deu bem no corralito
atualizado
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Quase vinte anos depois da severa crise econômica de 2001, na Argentina, o país olha para o passado com bom humor no filme A Odisseia dos Tontos. Baseado no romance do escritor Eduardo Sacheri, coautor do roteiro com o diretor Sebastián Borensztein (Um Conto Chinês, Kóblic), o longa traz Ricardo Darín liderando moradores de uma pequena cidade que tentam recuperar economias vitimadas pela ganância de uma advogado espertalhão.
Atuando pela primeira vez ao lado do filho, Chino, e se desdobrando como produtor, o grande astro do cinema argentino alavancou A Odisseia como a principal bilheteria de 2019 no país, justamente em cenário político agitado, com novas eleições presidenciais em curso.
Na província de Alsina, Fermín Perlassi, ex-jogador de futebol que jamais decolou como sonhava, convoca amigos da região para formar uma cooperativa. Cada um entra com uma graninha, em dólar. Mas, mesmo com as economias reunidas, eles precisam recorrer a um empréstimo.
É aí que as coisas desandam. O país entra em crise e instala-se o chamado corralito: cidadãos são proibidos de zerar contas correntes, poupanças e retiradas ficam limitadas a poucas centenas de pesos por semana. Para completar, Manzi (Andrés Parra), advogado oportunista, aproveita o momento para sacar milhares de dólares do banco mais próximo de Alsina, deixando dezenas de famílias na penúria.
Não fale em crise, se vingue
Borensztein narra uma espécie de Onze Homens e um Segredo da classe trabalhadora quando os humildes empreendedores decidem se vingar de Manzi. Sem qualquer habilidade em atividades criminais, decidem bolar um plano mirabolante e arriscado para arrombar o cofre do trambiqueiro, reaver o dinheiro e distribuir o restante para quem precisa ou foi surrupiado.
A Odisseia dos Tontos se filia à bem-sucedida tradição argentina de filmes populares e artisticamente credenciados. Não à toa, espera chegar ao Oscar 2020 e repetir o feito dos premiados A História Oficial (1985) e O Segredos dos Seus Olhos (2009).
Mesmo com o inegável atrativo de aplicar o heist movie (filme de golpe, assalto e afins) à realidade argentina, o longa jamais consegue fugir do formato quadrado e manjado dos blockbusters do país: narrativa com arcos bem delineados e previsíveis, pouca ou nenhuma ousadia formal e direção encostada no carisma do elenco. No fim das contas, um típico filme argentino “de roteiro” feito para agradar.
Avaliação: Regular