Crítica: A Melhor Escolha traz visão de Linklater sobre ônus da guerra
Filme reúne Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne em drama cômico sobre veterano do Vietnã que acaba de perder o filho em Bagdá
atualizado
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A Melhor Escolha, novo filme do celebrado diretor indie Richard Linklater, não é um drama de guerra como outro qualquer. Ao contrário da maioria, consegue um raro equilíbrio de humor cáustico, agridoce e rasgado com momentos encharcados de luto, resignação e perda.
Mestre do diálogo no cinema americano contemporâneo, Linklater dirige conversas em vez de tramas, como na cultuada trilogia Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013). Não é diferente desta vez. Em 2003, acompanhamos a jornada de um pai enlutado. Larry Shepherd (Steve Carell) acaba de perder o filho em Bagdá, Iraque.
Ele reencontra dois velhos companheiros dos tempos de Vietnã, o tagarela e beberrão Sal Nealon (Bryan Cranston) e o hoje pastor Richard Mueller (Laurence Fishburne) e convence os veteranos a participar de uma derradeira ação entre amigos: enterrar Larry Jr., o fuzileiro naval de 21 anos morto no Oriente Médio.
Humor, luto e memória
Detalhe: meses antes, em janeiro daquele ano, Larry perdeu a mulher, vítima de câncer. Desenrola-se, aos poucos, um road movie bastante emotivo sobre as coisas que perdemos na guerra – tanto para os que lutam quanto para os que ficam.
Linklater divide o roteiro com o autor do livro no qual o filme se baseia, escrito por Darryl Ponicsan. A obra literária serve de sequência para a publicação do mesmo romancista que gerou o longa A Última Missão (1973), estrelado por Jack Nicholson.
A conexão com a década de 1970 não é aleatória. Da mesma maneira que os filmes daquele período refletiam os horrores (simbólicos e reais) do Vietnã, Linklater aproveita os personagens para tomar o pulso de guerras recentes e suas repercussões sociais na vida de cidadãos comuns.
O trio de ex-soldados também acumula sentimentos de culpa em relação a algo que aconteceu no Vietnã. Eles entendem bem que a guerra mais tira do que dá. Habilidoso com as palavras (e o que elas têm de mais imagético), o diretor de Boyhood (2014) e Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (2016) consegue mais uma vez construir um memorial precioso sobre o espírito (inquieto e difuso) de uma época.
Avaliação: Ótimo