Crítica: A Favorita erra e acerta ao tentar entortar filme de época
Drama do grego Yorgos Lanthimos narra triângulo amoroso na corte britânica, entre personagens de Emma Stone, Rachel Weisz e Olivia Colman
atualizado
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Com 10 indicações ao Oscar, A Favorita pode parecer, na superfície, só mais um filme de época sobre uma rainha britânica a concorrer à estatueta dourada. Na verdade, o novo longa do grego Yorgos Lanthimos, cada vez mais queridinho da indústria norte-americana, faz contorcionismos para tentar entortar os clichês do gênero. No fim das contas, coleciona mais erros do que acertos.
Estamos em 1708, período de guerra entre Reino Unido e França. Época, portanto, de crise social, com o Parlamento dividido entre concentrar gastos no conflito para acelerar uma possível vitória ou abrandar o peso dos impostos sobre a população.
Nenhum desses tópicos políticos, porém, interessa mais ao diretor do que o triângulo amoroso – e algo venenoso – formado pela rainha Anne (Olivia Colman, curiosamente destacada para interpretar Elizabeth II em The Crown), de saúde frágil, Sarah Churchill (Rachel Weisz), conselheira da coroa britânica e duquesa de Marlborough, e a prima dela, Abigail Hill (Emma Stone), recém-chegada ao castelo em busca de trabalho.
Em sua terceira experiência consecutiva no cinema americano – dirigiu Weisz e Colman em O Lagosta (2015), indicado ao Oscar de roteiro original –, Lanthimos procura um equilíbrio entre drama palaciano e comédia ácida, por vezes até cruel, para evidenciar os bastidores ambíguos e insidiosos do poder.
Desta vez, ao contrário do visual um tanto clean e austero à la Michael Haneke de O Lagosta (2015) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), ele usa luzes naturais e lentes grande-angulares para explorar os extravagantes espaços internos habitados pelo trio.
De certa maneira, é como se Lanthimos quisesse exibir um folhetim impostado – para não dizer posudo. Há todos os elementos de um novelão de época e, ao mesmo tempo, uma obsessão por embelezar excessivamente a mais simples das cenas. A ruidosa trilha de suspense também mais atrapalha do que ajuda.
A produção, lá pelas tantas, parece tão embebida em seus caprichos visuais – inegavelmente atraentes – que escanteia sua razão de ser: Abigail e Sarah lutam pelo amor da rainha ou por elas próprias? As consequências dessa ambição, veremos mais adiante, serão terríveis.
No espaço de uma década, Lanthimos firmou seu nome no cinema contemporâneo com múltiplas premiações em Cannes. Para o público mais atento ao Oscar, “surgiu” para Hollywood quando Dente Canino (2009), com cenas de sexo explícito, figurou entre os indicados ao troféu de longa estrangeiro – aposta ousada para os padrões da Academia.
A Favorita talvez seja seu melhor filme, defendendo maneirismos que geram tantos entusiastas quanto detratores na cinefilia atual.
Avaliação: Regular