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Crítica: a crônica da saudade permeia “Café com Canela” e “Veroni”

Longa baiano e curta alagoano foram exibidos nesta segunda-feira (18/9) no 50º Festival de Brasília

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1 de 1 café com canela_Ary Rosa e Glenda Nicácio_cred rosza filmes (3) - Foto: Rosza Filmes/Divulgação

Dois filmes sobre a saudade e seus reflexos na vida cotidiana de pessoas comuns marcaram a mostra competitiva do 50º Festival de Brasília nesta segunda-feira (18/9): o curta “As Melhores Noites de Veroni” (AL) e o longa “Café com Canela” (BA).

Enquanto “Veroni”, primeira produção de Alagoas selecionada para a mostra principal em 32 anos, segue a mulher de um caminhoneiro que se reinventa ao cantar música brega, “Café” visita o Recôncavo da Bahia para mostrar a proximidade de pessoas que passaram por traumas particulares, mas tentam seguir vivendo com alegria e festejo.

Leia críticas dos filmes exibidos nesta segunda (18/9) na mostra competitiva:

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“Café com Canela” (BA): um brinde à vida
Embebido na cultura popular e em um doce senso de comunidade, o primeiro longa da dupla Glenda Nicácio e Ary Rosa começa e termina com um encontro de amigos entre carne de churrasco e copos de cerveja.

Entre as primeiras e últimas cenas, vemos uma crônica cotidiana sobre a transitoriedade da vida em diferentes, mas próximos lugares do Recôncavo da Bahia. A câmera quase sempre subjetiva, a olhar os corpos de perto com um misto de urgência e intimidade, acompanha personagens que tentam seguir em frente após traumas particulares.

Violeta perdeu os pais e cuida da vozinha doente. A jovem transpira alegria. Anda de bicicleta vendendo coxinhas e armando encontros etílicos com a hilária Cida, que, entre outras coisas, é frasista de pérolas como “vamos pra orgia!” ao convidar a amiga para sair.

Com leveza que sugere uma narrativa descontraída na forma (tela dividida, raccords espertos, vinhetas de plano-detalhe) e no conteúdo (músicas em iorubá, boemia, correria do dia a dia), “Café com Canela” flerta com o drama psicológico quando segue Margarida.

Mulher transtornada pela perda do filho pequeno, Paulinho. Enlutada, viu o marido sair de casa. Sons do aniversário de 5 anos do menino invadem seus dias e noites.

É curioso e até corajoso como o filme modula do núcleo festivo de Violeta, que além de Cida envolve Ivan, em sofrimento pela morte do companheiro Adolfo, para as visões infernais na casa de Margarida: filetes de sangue descem do teto, a câmera dá rodopios para mostrar o turbilhão de emoções negativas quando ela se vê de repente entre paredes sujas de terra e plantas envelhecidas.

Apesar de evocar um cinema livre, capaz de recorrer a um plano do ponto de vista do cachorro de Ivan por meio de uma GoPro no momento seguinte à morte de Adolfo, “Café com Canela” aos poucos larga as conversas jogadas fora e se contenta com um roteiro amarradinho, talvez buscando uma comunicação mais imediata com as emoções do público.

A conversa de Margarida com Violeta sobre seu amor pelo cinema, por exemplo, surge como o tipo de costura desnecessária que trivializa o que parecia uma transformação autêntica provocada pelo reencontro das duas. “Café com Canela” tem lá suas arestas, mas é um bem-vindo brinde à vida dedicado a tornar especiais as dores e os prazeres mundanos.

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“As Melhores Noites de Veroni” (AL): cantar para esquecer
Mulher de um caminhoneiro, Veroni passa dias e, sobretudo, noites praticamente em claro, meio avoada e perdida, sem ter o que fazer. A ausência do marido se impõe mesmo quando ele está presente: conversas mudas, aconchego com hora exata para terminar.

O reencontro de Veroni consigo mesma se dá quando ela desperta para a música brega, mesmo desafinando à beça. Ulisses Arthur, o diretor, usa bem os 16 minutos para desenvolver uma personagem se desgarrando da saudade. Uma pena que o curta termine de forma abrupta, quando Veroni está pronta para brilhar.

Avaliação: Regular

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